Tema 004 - O PÚCARO BÚLGARO
BIOGRAFIA
O PRESENTE
Celso Rab Lage

Sempre fui uma pessoa tranqüila, equilibrada e racional. Durante estes meus longos 30 anos de existência, poucas coisas me tiraram do sério. E, para minha pessoa, tirar do sério é elevar a voz em público.

Juro que não sou machista – diria que sou defensor das idéias masculinas -, portanto, me adaptar aos padrões femininos de compras me estressa.

Ainda lembro aquele dia, final de campeonato paulista. Sábado à tarde. Estava eu preparado com as pipocas quentinhas e a cerveja estupidamente gelada quando adentra à sala a minha digníssima esposa:

- Não vai dizer que você esqueceu o aniversário de Mamãe?, indaga ela com aquele olhar fulminante.

Eu, que havia me preparado psicologicamente para torcer contra o corinthians, já começava a arquitetar um plano para matar a minha sogra, fato logo apagado da memória em virtude de um enterro demorar mais que um aniversário.

- Claro que não esqueci amorzinho. Respondi eu, na maior cara de pau.

- Que bom amor, onde esta o presente?

É incrível como nós, os homens, temos a capacidade de esquecer as coisas que nossas esposas nos falam e, mais impressionante ainda, é a velocidade que arranjamos uma desculpa de última hora.

- O entregador da loja ainda não trouxe o presente? Pergunto eu, com a maior sinceridade.

- Não, e se não aparecer em dez minutos, você me leva no shopping.

Nessa hora é que você lembra do seu amigo solteiro, aquele farrista convicto, que a essa altura do campeonato deve estar no melhor barzinho da cidade, rodeado de loiras, tanto quentes quanto geladas, tranqüilo, feliz, apenas esperando o jogo começar.

- Mas Viviane, eu já comprei o presente, e o jogo vai começar em dez minutos. Se o entregador não aparecer, segunda-feira eu mesmo entrego o presente para ela.

- Nem pensar! Onde já se viu? Prometi para minha mãe que daria o presente para ela hoje.

- Mas querida...

- Nem mas, nem menos!, responde ela já confundindo as letras e equações.

Bom, como eu já sabia que nenhum entregador iria mesmo aparecer, e, já prevendo a pentelhação na hora do jogo, resolvi levá-la ao shopping.

Dominado! Frouxo! Traidor da ANMB ( Associação Nacional dos Machões Brasileiros).

Imagino todas essas belas palavras nas mentes masculinas, mas, o que vocês se esqueceram é que todo shopping que se preza tem um telão e um chopp geladíssimo.

Mal havíamos entrado no shopping e ela já pergunta:

- Onde você comprou o Púcaro?

- Hã?

- O Púcaro Búlgaro. É o presente que mamãe queria e que eu pedi para você comprar, não lembra? Em que loja você comprou, Adalberto?

- Nossa querida, aquela pipoca que eu literalmente engoli goela abaixo, esta me dando uma cólica! Vou ao banheiro, não saia daqui.

É amigos, nesse dia eu pensei que a vaca iria para o brejo. Nem imagino o que é essa coisa que ela pediu, e pior, nem lembrava que ela havia pedido.

Mas, quem tem um celular WAAP (ganhei 2 chopps pela propaganda), nunca está sozinho.

Acessei a net, procurei o tal Púcaro Búlgaro, encontrei uma loja que possuía um estoque infinito de púcaros búlgaros, pois o dono era o Sr Putchenko, maior fabricante de púcaros da Bulgária, e incrível, no mesmo shopping que eu estava ( juro!).

Encomendei, paguei com o cartão Visa (mais dois chopps) , molhei a cara para demonstrar um certo ar de sofredor devido a demora, e saí do banheiro.

- Que demora amor, lembra quem eu sou? Parece que sua cabeça diminuiu.

- Muito engraçado. Quer pegar o presente ou não quer?

Não preciso contar que o resto da tarde foi uma felicidade só. Peguei o segundo tempo do jogo, minha esposa estava feliz por ter um homem tão correto e prestativo, o Corinthians perdeu o campeonato e o chopp Brahma (mais dois!) estava uma delícia.

Tudo isso por causa de um bendito Púcaro Búlgaro.

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