Tema 009 - CÓDIGO
BIOGRAFIA
REVELAÇÕES
Beto Muniz

"Vou apertar, mas não vou acender agora..."
Bezerra da Silva

Digo para todos que sou ateu e provavelmente seria, se algo neste mundo não fugisse á minha compreensão. Fui criado dentro da igreja evangélica, meu pai é pastor desde quando me conheço por gente e minha fé deveria estar enraizada nas verdades de meus pais, porém, muito cedo fiz questão de sair do canteiro onde eles estão plantados. Caí no mundo. Compreendi muito sobre fé observando esperanças alheias, mas acumulei bem menos conhecimento do que gostaria. Do mundo, além dessa janela, sei pouco e desse pouco a maioria conheci através de revistas e reportagens sobre viagens. De tudo que leio guardo um pouco dentro de mim.

Quando freqüentava a igreja com meus pais, tinha um medo irracional do dia em que os céus se abririam para os quatros cavaleiros do apocalipse se apossarem da terra. Tinha pavor de todas as desgraças previstas no livro bíblico, das revelações caindo sobre minha cabeça. Após abandonar a igreja e perder a fé o medo também se evaporou. Nunca mais olhei para o céu em busca dos quatro cavaleiros. Fui crescendo e percebendo que as revelações bíblicas estão escritas em código, que a verdade ainda está lá, escrita no apocalipse, mas foi tão pintada para parecer monstro que ficou irreconhecível, maquiada, passada de maneira tímida. Da forma que nos chega ela não estapeia o leitor, só acena. E por não agredir ninguém a olha com interesse, e quem olha parece não enxergá-la. Se alguém parar vai perceber que a verdade bíblica está aos berros, gritando em nossas portas, mas poucos escutam seus brados.

Ouça! Ela diz que os cavaleiros estão chegando! Pare e ouça o tropel... Escutou?

"Se segura malandro, pra fazer a cabeça tem hora!"

Os cavaleiros estão chegando e é possível deter a cavalgada. Pela fé cristã que a maioria cultiva, os governantes do mundo já deveriam ter percebido que tantas catástrofes naturais são prenúncios do horror que está a caminho. A terra geme, os céus se contorcem e os mares rugem, mas a humanidade parece ter lido apenas o versículo do "Deus proverá". Aqueles que ouvem o tropel acelerado temem, mas parecem se conformar que nada podem fazer para impedir a chegada dos cavaleiros do apocalipse: "É uma determinação Divina". E convenhamos, ninguém ousa intervir nos planos de Deus. Melhor perecer?

Pare e ouça o tropel... Escutou? Ainda não? Coloque o ouvido sobre a mão espalmada no solo, como faziam os índios em filmes de nossa infância... Lembra? Ou melhor, quantos anos você tem? E quantos bilhões de anos têm o solo onde você pisa? Mesmo que você estivesse iniciando agora uma vida longa (viver noventa anos tá bom pra você?), o que estaria pensando sobre o seu futuro e sobre o futuro da humanidade?

Não sei o que você tem em mente quanto ao futuro, nem sei se pensa nisso com seriedade, sei que o caminho trilhado pelo homem pode desencadear num destino impensado. Dizem que nosso planeta não suportará por muito mais tempo as inconseqüentes investidas contra a integridade da mãe natureza, ele reagirá de maneira tão furiosa quanto jamais se soube, e conseqüentemente, jamais se saberá. As reportagens que leio contam que o superaquecimento da terra pode causar transformações de proporções gigantescas. Que as geleiras derreteriam e avançariam sobre as cidades litorâneas arrasando os agressores próximos ao mar. Não sei o quanto você acredita nestes cientistas, não sei se são loucos com suas teorias alarmistas, uns coitados com apregoando estatísticas. Sei apenas que esse é o tropel que te falo, esse é o brado da verdade suplantando a fé. Essa é verdade escondida nas mensagens do livro do Apocalipse.

Leio a bíblia, leio as profecias do apocalipse e me são reveladas catástrofes piores que o imaginado nas teorias da revista cientifica. Um aquecimento acima do suposto pela ciência numa velocidade acima do esperado ou sondado. A mente humana é incapaz de prever todos os horrores que virá. A Bíblia diz sobre cavaleiros, sobre monstros, bestas, demônios e infernos. Revestida pela fé cega e surda, a revelação acaba por nos afastar da verdade e o cristão ainda espera pelos cavaleiros. Olha para o céu e esquece de olhar a sua volta... Experimente despir-se da fé! Preste atenção! Consegue ouvir o tropel? Não é a cavalgada real que todos esperaram ouvir ribombando qual trovão pelos céus. A natureza, deflorada e sangrando está libertando o horror. O tropel que você finge não escutar está trazendo o alagamento de terras férteis. Os oceanos invadirão a Europa e se juntarão avançando sobre a Ásia, formarão um imenso e encapelado lago sem nenhuma possibilidade de navegação. Parte dos continentes desaparecerão e novas terras vão surgir quando os oceanos mudarem seus domínios. Lendas ressurgirão das águas e o mar vomitará seus mortos como um bebê que regurgita o leite. Não restará água, céu ou solo que não seja transformado em sua forma. Os desertos se transformarão numa caldeira mais terrível que o centro de um vulcão e na Amazônia restará tanta vida quanto no deserto do Saara. A terra abrirá sua boca expelindo magma em locais inimagináveis. O céu se tornará negro por um período longo o suficiente para que dois terços de nossa flora pereça. O inferno será o paraíso aos poucos que escaparem de ser tragados pelas águas, terremotos e explosões de fogo surgindo das entranhas da terra. A natureza então vai recolher suas forças e descansar, mas o que seria bonança, virá acompanhada do frio, alguns poucos sobreviventes rangerão os dentes de fome e sede. A água potável do planeta será contaminada pelo enxofre e o que restar para consumo será mais precioso que ouro ou diamante. Antigos terrores do passado serão ressuscitados e a população do mundo será reduzida a um punhado de nômades fugindo do caos. Homens perderão o raciocínio na busca desesperada por alimento e grupos menores serão massacrados numa canibal luta pela sobrevivência. A lei do mais forte voltará em toda sua fúria e a bestialidade dos animais será sobrepujada pela irracionalidade do homem. No ápice pela manutenção da vida cada indivíduo será soberano de sua miséria, o conceito família perderá o sentido quando crianças forem raptadas do seio de suas mães para suprir a falta de alimentos. O mais covardes dos crimes praticados nos dias de hoje serão esquecidos diante da insanidade que dominará os sobreviventes. Mas ainda, mesmo nesse estágio, não será o fim. O fim será a eterna noite que dominará a mente humana. Milhares de anos vão separar o homem atual do homem futuro. O estado puro da irracionalidade dominará o homem. Milhares de anos serão os juros cobrados pelo uso indiscriminado de tudo que a terra nos tem ofertado. Milhares de anos que são ínfimos para esse solo, mas uma eternidade para nossos filhos.

O planeta conseguirá se recuperar das atrocidades cometidas contra a natureza. Após a bestialidade adormecer dentro do homem a civilidade novamente acordará. Como nos primórdios dessa nossa era, o homem saberá valorizar as dádivas da terra. Cada planta será cultuada como fonte suprema de alimento e vida. A harmonia com a mãe natureza será recuperada, a semente será venerada como a continuidade da vida e o solo como pai de todas as criaturas. Cada folha será um manjar dos deuses e o cultivo da terra será cantada em odes exaltando a perpetuação da espécie. Será nosso recomeço. Alguns milhões de anos depois os indivíduos descobrirão sobre nós, sobre a nossa cultura e dirão: eram primatas. Evoluímos.

Não sou nenhum defensor da natureza tentando levantar uma bandeira ou angariar adeptos para a causa. Que causa? Também não pretendo ser profeta de uma era negra. Nem pretendo que alguém mude sua fé, seus pensamentos ou sua maneira de agir diante dessa minha leitura do apocalipse. A única coisa que pretendo é não sobreviver ao início desse caos. Também não sou suicida! Só estou ouvindo o tropel... Os cavaleiros estão vindo e não chegarão pelo céu.

"Vou apertar, mas não vou acender agora
Se segura malandro, pra fazer a cabeça tem hora!"

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