Tema 010 - GENGIBA
BIOGRAFIA
GENGIBANDO EM FAMÍLIA
Ana Cristina Geraldini

-          "Ni" onde?

-          O quê?

-          "Ni" onde a Dona Lurdes mandou ir.

-          "Ni" onde, minha filha tá louca? Pode ir tirando esse "ni" e fica só com o onde que está melhor.

-          Ah tá.

O diálogo acima era de uma funcionária de nome Silvia, que todo mês não deixava de perguntar quando ia chegar o "horelith" e não holerith (contra-cheque para os demais Estados brasileiros) e vez em outra soltava um "ni" quando.

Aliás, o "ni quando" já ouvi até de universitários, tudo bem que o nível não está lá tão bom, mas é deplorável.

E cair um tombo? Nunca entendi muito bem, ou caímos ou levamos um tombo, que no fundo leva ao mesmo lugar, ou seja, o chão.

A minha avó é ótima, bem humorada e portadora de um vocabulário invejável. Pessoa forte, sempre trabalhou na roça. Atualmente já com idade avançada, reclama de algumas dores, mas sempre com uma "bassoura" em punho para "barrer" o quintal da casa dela.

Quando vem passar o fim de semana conosco, ela não fica sem "ponhá" os "tolher" na hora de arrumar a mesa. Depois do almoço parece que tem o bicho carpinteiro no corpo, lá vai ela com a "bassoura" de novo, desliga o "ventulador" para não "avuar" e "barre" a poeira. Os problemas com a "gengiba" ela resolveu já há algum tempo, atualmente sua "gengiba" fica livre e solta sem dente algum por pelo menos as seis horas diárias de sono.

Mas, o que mais marcou a minha infância foi uma empregada que minha mãe tinha. A Cida era mocinha, devia ter uns 20 anos e um filho que tinha ficado com a mãe na Bahia, muito boa pessoa, era sobrinha da empregada da vizinha e veio para trabalhar em casa. Depois de algum tempo em São Paulo ela arranjou um namorado que posteriormente veio a casar-se com ela.

O fato é que quando soubemos que ela estava namorando, ela tratava-o como "meu pincipizinho". Eu morria de rir, era meu pincipizinho pra lá, meu pincipizinho pra cá até que um belo dia perguntamos o nome do rapaz e ela, sem pestanejar respondeu:

-          Beto Lameu

-          Ah? Beto Lameu? Cida você tem certeza que o nome do moço é esse mesmo?

-          Tenho sim Dona Lurdes, Beto Lameu!

Eu, em cima dos meus nove anos e nada "capeta", comecei a correr e gritar pela casa Beto Lambeuú, Beto Lambeuú, Beto Lambeuú. Minha mãe só me deu aquele olhar fuzilante, tipo, "depois te pego de jeito".

Todos os dias eu não deixava passar em branco e cantava a musiquinha do Beto Lambeuú, fiz até música para eles.

Até que chegou o dia que o moço foi em casa para namorar a Cida no portão, ou na esquina, sei lá. Tocou a campainha. Saí correndo para atender a porta, era ele, o Beto Lambeuú. Olhei bem para a cara dele e falei:

-          Oi

-          A Cida tá aí?

-          Tá, você é...?

-          O namorado dela, disse ele. Bartolomeu, abrindo um largo sorriso 1001.
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