Encontro nada que casual entre Chico Buarque, Mario Prata, Vinicius de Moraes, Alejandro Sanz e uma linda mulher.

- Meninos eu trouxe vocês até aqui para provar que sou a fonte de inspiração de todas as vossas criações. Duvidam?

Mario Prata foi logo dizendo:

- Menina, apesar de você ser bonita, gostosa e esplendorosa, tenho que confessar, você não foi uma das minhas mulheres. Infelizmente não te conheço, meu anjo.

Ela suavemente exclamou:

- Isso é o que você pensa! Sou todas as suas mulheres e seus homens, sou sua vida passada a limpo. Seus contos pirandellianos, sua fábrica de chocolates, seu dinheiro vivo. Sua dona beja, seu cordão umbilical, sua banana split, sua avenida paulista. Sua Helena, seu anjo de badaró, seu sonho a mais.

Pratinha riu, acendeu um cigarro e retrucou:

- Puxa, fala a verdade, você andou fumando unzinho, né não?

Com doçura e delicadeza, ela respondeu:

- Mário Alberto Campos de Morais Prata, sou a que te move, a que te faz sentir prazer, a que te faz gozar, a que te entusiasma.

Discretíssimo, mas sempre dê olho em tudo, Chico Buarque, estava ali no seu cantinho, rindo de mais uma situação inusitada ocorrida com ele e seu amigo. Ela percebendo que ele ria e fazia um gestinho do tipo "tô sabendo Prata, dessazinha você não me contou", não pensou duas vezes, dirigiu-se até ele e disse:

- Chico, eu também sou a sua musa inspiradora. Sou sua Carolina, sua morena dos olhos d'água, sua flor da idade. Sua Bárbara, sua tatuagem, sua fortaleza. Sua Rita, sua lua cheia, sua valsa brasileira, sua rosa-dos-ventos, sua construção, sua ópera, sua caçada. Sua Ana de Amsterdam, sua sinhazinha, sua gota d'água, sua feijoada completa, sua vida. Suas mulheres de Atenas, até o fim.

Chico estarrecido retrucou:

- Peraí mocinha. Mulher de amigo meu é homem. Nunca te vi, nem aqui, nem na China.

Ela deu um belo sorriso e afirmou:

- Meu bem, você nunca me viu, mas sempre esteve comigo. Em todos os seus pensamentos, por onde andaste eu estava contigo!

Vinicius de Moraes não agüentando mais o papo dos dois amigos com a bela garota, que mais parecia  ser uma garota de Ipanema, disse:

- Se você quer ser minha namorada ah, que linda namorada você poderia ser. Se quiser ser somente minha exatamente está coisinha, está coisinha toda minha que ninguém mais pode ser.

Ela respondeu toda eufórica:

- Que lindo meu poeta. Por isso és o grande poeta dos seres apaixonados. Sei que tudo que fizeste foi por mim. Minha namorada, Antologia poética, Poesia completa e prosa. Ariana, Jardim noturno, Morena flor, Soneto de fidelidade. Sombra e luz, Canto de Ossanha, Canção da benção. Ternura, Estrela polar, Rosa de Hiroxima, Tonga da Mironga do Kabuletê, Receita de mulher, Eu sei que vou te amar. Tudo foi devido ao que eu sou.

Alejandro Sanz, curioso pra saber quem era aquela brasileira que havia sido a fonte de inspiração de tão ilustres artistas, perguntou:

- ¡Mira! Estoy  muchísimo curioso. ¿Maravillosa, puedes decirme quién eres?

Ela disse:

- Hay cosas que no se cuentan y mueren en los corazones.

Alejandro respondeu:

- Pero está frase es mía. ¿Esto es una broma?

Ela apressou-se a dizer:

- Por supuesto que no Alejandro. Soy la dueña de esa frase. Soy la dueña de tu corazón partío, soy la margarita, su charquito de estrellas, su amiga, desde el último momento.

Eles estavam impressionados com aquela conversa. Impressionados com aquela mulher que apesar de linda parecia não bater bem da cabeça. Impressionados por ela dizer que os conhecia e que - num bom português - dizia ter tido um "casinho" ou coisa parecida. Tudo isso era muito estranho para eles. Ela só podia ser louca ou estava tirando um sarro com a cara deles. Não resistindo mais, perguntaram:

- Já que você é a nossa musa inspiradora, diga qual é o seu nome?

Triunfantemente ela respondeu:

- Meus queridos meninos, sou o brilho dos seus olhares, sou a ternura que se expande pedindo carinho, sou o calor do sol e a brisa da paz, sou o sonho sem fim, sou a vontade de sorrir e abraçar o mundo, sou afeição profunda, sou aguda, platônica, perfeita, sou a essência da vida, sou Amor!