Tema 019 - FAZ DE CONTA
BIOGRAFIA
SIMPLICIDADE. SIMPLICIDADE?
Mariazinha Cremasco

"Acredito que as coisas simples da vida são as mais importantes". Essa frase foi escrita por uma amiga em um livro meu, como dedicatória. Fiquei pensando no quanto é simples ou complicado ser feliz.

Fui uma criança pobre. Não fazíamos de conta que éramos felizes. Éramos felizes de fato. Estávamos sempre juntos. Dividíamos problemas, alegrias e sonhos. Nossas brincadeiras eram deliciosas. Meu pai nos levava a passeios incríveis, onde tudo o que gastava era a criatividade. Íamos jogar pedra no rio. Já viu coisa mais inocente? Na verdade, o rio não era rio. Era um córrego. Córrego dos Meninos, no ABC. Outra coisa que costumávamos fazer: Contar carros e ônibus na Via Anchieta. Meu pai fazia a contabilidade. Ganhava quem acertasse mais o número de carros e marcas que passavam em xis minutos. O que ganhava o vencedor? Apenas a alegria de ter ganho. Gostosas gargalhadas. Simples, não?

Vejo hoje, que as pessoas precisam de mais, muito mais para serem felizes. Que pena. Quando tive meus filhos, eu tinha a noção de que a vida não era cor-de-rosa como a gente via nas revistas. Pais lindos e sorridentes. Mães arrumadíssimas, cheirosas, sem um fio de cabelo fora do lugar. Bebês igualmente cor-de-rosa e sorridentes. Nunca brinquei de faz-de-conta-que-comigo-vai-ser-assim. Sabia que bebês choram à noite, fazem cocô, vomitam, ficam doentes. Pô, mas não sabia que era tanto assim. Quantas noites, quantas preocupações. Mas... e a felicidade? Ela estava ali. Nas pequenas coisas. Nas descobertas. Em cada progresso, em cada detalhe, em cada coisa nova que faziam ou aprendiam. Na verdade, como diz essa minha amiga, ali. Ali estava ela. Nas coisas mais simples.

Hoje tento passar isso aos "pequenos". Não acredito que com sucesso. Está cada dia mais difícil sonhar, ver e contentar-se com pequenas coisas, pequenos gestos.

Convivo com pessoas, sendo eu mesma uma delas, que vivem rodeadas por vídeo-cassetes, DVDs, computadores, carros, TVs a cabo, aparelhos de som, disc-man, viagens. As pessoas precisam de cada vez mais. E ainda assim não sorriem.  O que será que falta?  Não, não sou a favor de me enfiar no mato e ficar olhando estrelas, sem luz nem água. Adoro todo o tipo de conforto e de coisas modernas que facilitam a vida. Mas sobretudo, gosto de gente. De que me vale assistir a um bom filme, sem um amigo, ou filho, para comentar, rir ou chorar juntos? As pessoas estão cada vez mais sós... mais voltadas para si mesmas.

Simplicidade. Talvez seja essa a palavra. Talvez seja isso que esteja faltando. Olhar, perceber, sentir, sonhar, dividir. Entrar talvez no mundo do faz-de-conta, alguns minutos por dia.

É, a cada dia mais me convenço de que a felicidade está nas coisas mais simples da vida, não é mesmo, Sônia?

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