Tema 024 - A PERFEITA SOLIDÃO
BIOGRAFIA
A MULHER QUE GOZAVA À JANELA
Alberto Carmo

A casa ficava a duas quadras da dele, em frente à praça. Todo fim de tarde ele deixava a estação do trem e caminhava a passos marcados. Sentava-se no banco e fingia ler o jornal. Olhava pelo canto da folha, e lá estava ela, sempre no mesmo lugar, como um quadro animado, envolvida pela moldura das persianas. Regava as gérberas da floreira com uma jarra d'água.

Era quase linda, os cabelos desarranjados, um suor vertido na testa, os olhos semicerrados, a boca pálida, em carne viva. Percebia-lhe os braços nus, trêmulos, deitando a rega aos botões. O colo, aos poucos, ia-se-lhe umedecendo, ora pela pele quente, ora sorvendo as gotas que repicavam nas flores.

Via-lhe os seios brotando pelo vestido apertado, os mamilos sendo esboçados, lentamente, através do tecido já molhado; o peito arfante forçando o decote descuidado. Excitava-se com a cena. Imaginava-a sozinha, cansada. Notava-lhe às vezes a apoiar a cabeça com uma das mãos e fechar os olhos - parecia estar exausta, talvez doente...

Ainda assim não podia evitar-lhe a visão. Como a desejava ter nos braços, acariciar aqueles seios, beijá-la sobre o tecido fino, e sentir-lhe o toque das coxas por baixo do vestido. Pensava em invadir-lhe a morada, e deitá-la ao chão, e satisfazer suas taras. Cobria o sexo com o jornal e voltava à casa, com a marca do sêmen manchando-lhe as calças.

Ela o esperava todas as tardes. Fixava os olhos no relógio da cozinha até pouco antes do horário tacitamente combinado. Logo, corria ao quarto, despia-se toda e, nua por baixo, trajava apenas o mesmo vestido de tecido fino, perfumado, semitransparente. Sentava-se à mesa, subia o vestido até a cintura e acariciava as coxas. Primeiro suavemente, depois as apertava com mãos fortes, espremia o vestido no meio das pernas e esfregava o sexo com a mão nervosa. Gemia solitária, movia os quadris quase desesperada, o vestido já tingido pela seiva que lhe descia viscosa.

Na hora exata, levava o dedo à boca, deixava na língua aquele odor forte; e  levantava-se, ajeitava o vestido, escondia os peitos, já enrijecidos de desejo, de volta ao decote, e ia até a janela.

Quando ele se sentava ela já suspirava. Fêmea, em cio grosso e ácido. Percebia-lhe a excitação e apertava as pernas. Depois as abria e copulava em pensamento, em gritos camuflados de uma prostituta. Deixava-se enrabar como uma perdida, jogada nos braços de um qualquer na rua - saia erguida às costas - como uma cadela, presa ao falo duro de seu dominador.

Regava as flores com uma mão, a outra a tocar-lhe o clitóris encharcado e escorregadio. Por vezes penetrava-se com um dedo, depois outro, e remexia as entranhas que latejavam. Desviava um gole d´água, que deixava descer decote abaixo, até lhe chegar à barriga, que fremia, contorcia-se. Chegava a dobrar os joelhos, tamanho o prazer que sentia. Escorria-se sem controle e, quando o corrimento a tomava por completo, apertava a mão contra as pernas e deixava o gozo vir em jorros. Fechava os olhos, e apoiava a cabeça, tal era seu arrebatamento.

Depois que ele se ia, abria a geladeira, pegava os cubos de gelo, deitava-se sobre a mesa, libertava os seios e os misturava às pedras geladas. Descobria as coxas, abria as pernas, e os sentia derreter dentro da vagina, em espasmos torrenciais. Masturbava-se com tal intensidade que a voz lhe saía rouca, em soluços de gozos contínuos, intermináveis. Abria e fechava as coxas, contorcia-se, virava-se de bruços, erguia as ancas, e esfregava os peitos na fórmica fria, até acalmar-se saciada.

Despia-se novamente e, nua, lavava o vestido. Depois dormia, para acordar de madrugada e, ainda sem roupa, pôr-se a esfregar aquele poço alagado pelo esperma imaginário que queria sorver. Gozava freneticamente, histérica, mordendo os pulsos, e adormecia exausta, quase em febre.

Acordava cedo, e aguardava a chegada da tarde...

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