SERENATA
PARA SOLIDÃO
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Zorg
Anglade
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Solidão, só lhe dão as noites mais amargas, a dor de cotovelo, a lágrima salgada e a dor no peito. A dois, você vê os casais pelas ruas, aos beijos, em bocas contorcionistas, as poses equilibristas dos corpos que se moldam nos moldes moles e duros dos músculos e dos sussurros. De dia faz calor, você na rua, mesmo com pouca roupa, não é vista, caminha escondida, mesmo que o mundo todo diga que a tem como amiga. Depois faz frio, no fim de tarde, quando o sol chia e derrete no mar, quando o vento assobia e não é para você, e não é para levantar sua saia, que mal cobre seus pêlos eriçados e sua pele macia. Você diz "já foi", que tudo lhe foi arrancado, e que mesmo assim já aprendeu a conviver com a partida alheia. E eu concordo contigo, eu que também sou só, que ando pelas ruas à mostra mas escondido, que já encontrei muita gente que queria dar um tempo, e que eu aceitei, porque de cavalo dado não se olham os dentes. Você sai de perto, eu penso em suicídio, pois a companhia dos homens é uma navalha na minha carne, uma corda pendurada na ripa da casa e armada em nó. Mas no fundo eu nem ligo, porque não atendem, e porque prefiro você, Solidão, a mulher perfeita, e, como toda mulher perfeita, rejeitada, sempre à espera do grande amor. Eu sou seu grande amor, Solidão. Aqui estou eu, montando em meu teclado branco, meu amor. |
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