Tema 025 - OS PECADOS CAPITAIS
BIOGRAFIA
A LUXÚRIA
Luís Augusto Marcelino

Meu amigo Renato Torres é daqueles que já nasceu com o destino traçado. Seria jornalista a qualquer preço. Pra começar, desenvolveu uma frieza diante de tragédias e situações caóticas digna de um cirurgião vascular. Tinha um espírito de investigação de fazer inveja aos arapongas do Planalto. Vivia à cata de um acontecimento, de um furo jornalístico. Ainda que fosse para noticiar no jornalzinho mal acabado do colegial. Por conta desse jeito, foi parar numa zona, semana passada. Pediu para o cafetão a top da boca. "Vai custar caro! - avisou o leão de chácara." Renato sinalizou que não haveria problema. Foi alertado mais uma vez que não eram aceitos cheques nem cartão de crédito, e se não pagasse... Meu amigo mostrou o maço com algumas notas de dez e cinqüenta. O cafetão abriu um sorriso.

- Só tem uma coisa! A mulher tem que fazer tudo o que eu quiser.

- Então vai me pagar metade adiantado!

- Combinado.

Bateu no quarto 7, de acordo com a instrução recebida na portaria do hotel caça-níqueis da Augusta. Continuava impassível. Por telefone, a cortesã foi avisada de que chegara um bom freguês. Banhou-se com seu melhor perfume e retocou a maquiagem. Preparou seu grande sorriso e abriu vagarosamente a porta.

- Você?!!

Renato, talvez pela primeira vez na vida, perdeu o compasso. Ficou mudo e estático por alguns instantes. Consciência retomada, beijou a irmã no rosto. O que faz aqui, Renatinho? Explicou que pretendia vender uma reportagem com uma p..., quer dizer, uma garota de programa, para um repórter do interior. "E se estou aqui, mesmo que seja você, vou entrevistar." Fernanda tentou argumentar que seria loucura, que não faria sentido e que, além do mais, não gostaria de ouvir o que se passava com ela dentro daquelas quatro paredes. Sou sua irmã, afinal. E se faço isso é pra te ajudar a terminar os estudos - concluiu.

Isso era verdade. Se havia alguém que se preocupava com a realização do sonho de Renato era sua irmã Fernanda. Nunca deixou faltar um livro, uma lapiseira que fosse. Só não contou a origem de seus ganhos extras. Mas Renato estava ali, precisava cumprir o ofício da "profissão" e pediu para que a irmã o encarasse como se fosse o Carlos Tramontina.

- Quantas relações você tem por dia?

- Tá brincando...

- Qual é,  fala aí? Já quiseram...

- Já!

- Em quê você pensa quando está transando?

- Na sua mãe!

- Por que?

- Oras bolas, isso é ridículo! Quer parar Renatinho? Não vê o quanto isso é constrangedor?...

- É minha futura profissão, mana. Tenho de ser isento. Já transou com mais de um ao mesmo tempo?

- Sim. Mas recebi dobrado.

- O quê recebeu dobrado?

- O pagamento, imbecil!

- Ah, é claro... Acho que esta entrevista não está dando certo. Estou me policiando com as perguntas e você não está respondendo direito.

- Pudera, né mano! Quer que eu arranje outra garota para entrevistar?

- Tá bom, melhor assim.

Renato foi para outro quarto e passou a entrevistar uma moça. Arrancou-lhe tudo o que pôde e levantou o material para sua entrevista bombástica. Nem tocou na menina, que acabou se desabafando e chorando feito criança, ao relembrar alguns momentos de promiscuidade total. Meu amigo não se comoveu, como era de se esperar. Mas pelo menos procurou ser atencioso. Ouviu uma batida na porta. Era a irmã.

- Tô indo! Vê se não me f... lá em casa!

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