Tema 030 - EMBRIAGUEZ
BIOGRAFIA
EMBRIAGUEZ?
Beto Muniz

Em tardes nubladas, de ares gelados e folhas ao vento, não adianta eu querer escrever sobre os humores do cotidiano. O início do inverno é a estação mais sem graça, se bem que é também a mais poética do ano: nem tão frio que esfrie os calores do amor, nem tão quente que alimente a preguiça. O começo de inverno proporciona a temperatura ideal para vinhos, abraços e amassos, porém, imprópria para os dedos que saltitam nas teclas - erradas - fazendo meus textos surgirem recheados de melancolia difusa... Logo eu que pretendia fazer rir?

Abandono o teclado e encaro a tela do monitor. O vinho esquenta a garganta. Após alguns goles meus lábios estão adormecidos e a mente embaralhada. Embriaguez de idéias e álcool, pode ser? Pode! É o branco! Deu branco e a crônica da semana não vai sair.

Rio de mim mesmo e dessa ausência absoluta de idéias sobre o que escrever envolvendo embriaguez. Eu que tantas vezes caí bêbado agora tenho só o assovio do vento que entra pela fresta da janela... Entra esvoaçando as cortinas, me ofertando a certeza que não estou só. Levanto, penso em fechar a janela, mas minha atitude é inversa. Arreganho a folha de alumínio e vidro. O vento da tarde entra espalhando todos meus papéis pela casa. Aborreço-me, ainda mais, com a entrada desordeira e expulso o intruso (comportado, seria meu convidado).

Desisto de escrever - de tentar um texto para fazer rir, e vou dormir... Nada como uma soneca nesta tarde de nuvens cinzas. O vento, idiota, continua assoviando pelas frestas.

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