Tema 034 - LABIRINTO
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O DEZENOVE
Fernando Zocca

Sou um fervoroso praticante de atividades físicas. E tudo isso graças aos conselhos que recebi de bons médicos preocupados em restituir a saúde para seus pacientes rebeldes e revoltados como eu fui por algum tempo.

Na verdade os maus hábitos são certamente a causa primeira de uma infinidade de afecções que acometem a nós brasileirinhos que temos muito a aprender.

Naquele tempo em que era solteiro, quando tomado por digamos, tesões irrefreáveis, sinal de acúmulo da testosterona no sangue, bem como pelo excesso de esperma nas vesículas seminais e demais fluídos na próstata e testículos, e não tinha para onde canalizar toda aquela energia, diluía-as com dúzias de cervejas geladas e pinga, muita pinga, sempre que sentia tais comichões. O resultado? Bem, o resultado é que depois de alguns anos dessa prática me vi doente.

Então, após rigoroso diagnóstico, e sua prescrição terapêutica, possibilitou-se um prognóstico positivo.

Vai daí que as caminhadas são indispensáveis.

Mas acontece que o excesso de atividade física pode ser prejudicial. É o que ocorre com tudo o que é de mais.

Bem, como estamos num estágio de nosso desenvolvimento tecnológico em que são necessárias máquinas e engenhocas para nos dar o conforto e por serem estas máquinas e engenhocas movidas por energia elétrica, me preocupei quando anunciaram que haveria racionamento de energia.

Ai eu fiquei pensando: como subiria para o décimo nono andar do meu prédio, todo dia pelas escadas, sem botar os bofes para fora?

E as betoneiras, nas construções, seriam movidas novamente por força muscular?

Se eu fosse proprietário de rádio, televisão e jornal que se alimentam primordialmente desse produto industrial, como seria nossa vida e de todas as nossas equipes com parte do nosso consumo suprimido?

Não estaria eu sendo paradoxal ao criticar a falta de visão de governos em suprir as carências energéticas e depois impedir as iniciativas particulares de construírem usinas geradoras?

Como tenho o temperamento colérico, vejo-me logo depois desses absurdos, na iminência de adotar a postura "tolerância zero" com tanta burrice junta.

Bem, sabe-se que quando a bile (aquela coisa verdolenga produzida pelo fígado) permanece por longas horas na corrente sangüínea, as reações comportamentais são do tipo "pavio curto", mas quando a bile torna-se negra, ocorre então o perigo de digamos, total intoxicação do sistema nervoso, tendo como conseqüência mais grave a depressão.

Ocorre que se você não tiver acesso à leitura, internet, televisão, rádio e música, seu estado geral pode se complicar cada vez mais. E note bem: todas essas atividades necessitam de energia elétrica.

Então por quê tanta manha em aceitar a construção de uma usina geradora logo ali, pertinho de seus centros consumidores?

Nós sabemos que a população não cessa de aumentar. A cada ano surgem mais e mais crianças. Graças a Deus. Mas onde nós encontraremos trabalho para tantas pessoas daqui a dez ou vinte anos?

Parece que estamos num labirinto onde procuramos o caminho mais acertado para o fim a que nos propomos: vida longa, confortável e digna; trabalho e lazer, amor e respeito ao próximo. Estamos condenados ao progresso. A evolução humana implica em certa transformação do meio ambiente. Não resta a menor dúvida. Mas não é por isso que voltaremos aos tempos em que se navegava com a força dos remos e velas não é verdade?

Apesar de estar fora de forma, com excesso de banha que transborda por cima de minhas cintas e pelo fato de minha pele ser extremamente alva, indisponho de coragem para dar uns piques nos campos e verdes vales de minha terra.

Tenho feito "Cooper" de carro. Não é correto, mas é a alternativa que me permite os joanetes inflamados.

Eita! É a malvada pinga que me atrapalha...

Mas um dia ainda sairemos desse bagaço. Quem é que sabe?
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