Tema 034 - LABIRINTO
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MARATONA DE PALAVRAS
Maurício Cintrão
Muita gente me pergunta como é que escrevo. Se eu fosse o Jânio Quadros responderia: "com os dedos!". Sei bem o que perguntam, mas finjo que não percebo. Tenho mais facilidade do que muita gente para construir períodos e isso, às vezes, provoca espanto.

Vou escrevendo. A resposta seria essa. Mas é muita falta de consideração falar o óbvio. Quando estou mais inspirado, desenvolvo verdadeiros tratados a respeito do ato de escrever. Se estou com pressa, digo que não sei explicar.

Cá entre nós, não sei explicar mesmo. Às vezes escrevo e às vezes não. É como enfrentar labirintos. Resolvo determinados textos com facilidade. Outros, nem consigo concluir. O parquinho dos textos sem saída está atulhado de bons começos. Sinal inequívoco de que nem tudo o que escrevo chega ao fim.

Há, ainda, o caso dos textos de congelador. Há um tempo de espera para eles. Guardo porque não tenho certeza se, de fato, cheguei ao final. Tempos depois, naquela hora de limpar os arquivos, releio. Se não provocarem tédio, publico.

Já aconteceu de gostar muito de um texto mas, por algum motivo, não mostrá-lo a ninguém. Passado algum tempo, volto a ele com aquele gostinho de satisfação e me assusto: está uma droga! Vai para o lixo.

Não encontro o caminho das palavras com facilidade. Elas podem estar ordenadas e as frases bem construídas. Mas não saíram da cabeça para os dedos assim, de repente! Muitas vezes, é a mão experiente e o olhar atento que emprestam a uma crônica, por exemplo, a aparência fluída, quase líqüida aos olhos. Em geral, foram as sucessivas correções e releituras que deram ao escrito aquela dinâmica ágil, esperta e rápida. O que parece ter sido feito em segundos demorou dias.

O Zélio Alves Pinto, artista gráfico e aquarelista de mão cheia, falou certa vez que o traço não precisa ser feito com velocidade para parecer rápido. O importante é como fica e não como é criado. Alguns artistas desenham lentamente traços que parecem ter sido produzidos em um zaz. Saiba, portanto, que meu texto rápido é lento, lentíssimo.

Quem fala que escreve rápido e resolve com facilidade seus textos é gênio ou mente. Não conheço muitos gênios neste ofício. Acredito mais no trabalho, no esforço permanente, no reaprendizado constante. Dessa forma, gostaria de rever o conceito original. Mais do que vencer labirintos, escrever é como disputar maratonas. Não tem milagre. Não tem surpresa. Escreve-se como conseqüência natural do treino e da persistência. Há momentos de pódium. Há momentos de cãibras alucinantes. Há contusões e muitos resultados ruins. No geral, contudo, o importante é chegar.

Se você está lendo esta crônica é porque ela completou a prova (ou saiu do labirinto).

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