DO SONHO À REALIDADE
Larissa Schons
 
 
Me recordo como se fosse hoje, eu estava ali, sentada comendo o meu lanche da tarde, conversando com os meus amigos, quando chegou uma senhora perto de mim. Ficou me olhando e eu sem graça não sabia o que fazer. Ela, não disse nada e me abraçou. Um abraço gostoso, aquele tipo de abraço de longa data. Um misto de aconchego e aflição tomou conta de mim. Aquela senhora estava me abraçando tão calorosamente e eu não sabia o porquê.

Após me abraçar, segurou minhas mãos e disse: - Estava morrendo de saudades, Luciana! Arregalei os olhos, dei um sorriso amarelo pra coitada da senhora e tive que confessar que eu não era Luciana coisa nenhuma.

Ela não se conformou, mesmo decepcionada por não encontrar a sua Luciana, me pediu para ficar ali até a hora que eu fosse embora. Disse que eu era muito parecida com a sua neta, os mesmos olhos, o mesmo sorriso.

Confesso que na hora não liguei, apesar da fisionomia perplexa dos meus amigos, eu até que achei natural. Já tinha ouvido falar de várias historias de sósias e achei engraçado de repente me enquadrar em uma dessas historias.

Almoçamos, desejei a senhora sorte, que ela encontra-se a verdadeira Luciana. Ela muito simpática me desejou felicidades e nos despedimos. Até aí tudo normal, meu pesadelo começou naquela noite. Sonhei com a Luciana, minha sósia, e o pior, sonhei com nós duas, frente a frente, idênticas, sem tirar e nem pôr.

Acordei achando que estava delirando, era muita semelhança para ser verdade. Coloquei a culpa, na minha fixação pelas leituras borginianas. Quem manda ler tanta literatura fantástica, dá nisso, fica sonhando abobrinhas, pensei.

Fui para o centro da cidade, imaginando mil coisas. Cheguei a pensar numa suposta irmã gêmea perdida por esse mundo. E se isso fosse verdade? Eu tinha que encontrá-la.

Passei aquele dia que nem uma louca, andando pela cidade a procura da minha suposta sósia. Voltei na mesma lanchonete do dia anterior, na esperança de quem sabe encontrar a Luciana ou a sua avó, ou alguém que pudesse me ajudar.

Sem obter resultado caminhei na direção da praça central. E foi ali diante daquela paisagem que senti uma sensação estranha. A sensação de já ter passado por aquele lugar, por já ter vivido aquele momento. Caminhei reto até o Palácio da República, minha consciência me levará até lá. Diante da grandiosidade da pintura renascentista, das suas formas clássicas, cheguei aonde queria, a imagem viva, natural e real de Luciana.

Perplexa vendo a linha de curvas que se aproximava da realidade me debrucei e agradeci. Agradeci a Deus e a minha consciência que me auxiliará e que de alguma forma sabia que a partir dali a minha vida se transformaria e renovaria para sempre.

 
 
fale com a autora