BIOGRAFIA DE UMA ONOMATOPÉIA
Flora Rodrigues
 
 
Foi assim, sem mais nem menos, à velocidade do pensamento, de um escritor qualquer, a quem faltava a palavra exacta, que eu nasci, fruto de sua imaginação. Assim nasci eu "ZAP", membro da ilustre família das Onomatopeias.

Não! Não! Sei que rima mas não somos centopéias, embora, de facto tenhamos algo em comum com elas. É que se as centopéias têm cem pernas, quase todas nós podemos ter cem formas. Tudo depende da imaginação de quem nascemos, e olhem que nascemos com uma missão bem importante!

Nós, Onomatopéias, somos as ilustres representantes de sons, movimentos e outras coisas indizíveis e impossíveis de escrever se não existíssemos. Somos tapa-furos, verdadeiros bombeiros da linguagem oral, escrita e até da Banda Desenhada, onde desempenhamos um papel fundamental.

Pensando bem, mas bem mesmo, acho que sem nós, Ilustres Onomatopéias (sim, eu sei que o nome é esquisito, mas foram vocês que escrevem e que falam que o inventaram!), toda a linguagem onde as palavras imperam seria monótona. De certa forma somos também a Classe dos Músicos no reino das palavras.

Posso-vos dar alguns exemplos, convidando outros membros da minha família. Como já vos disse, quase todas nós podemos ter cem formas (às vezes até mais), tudo depende da imaginação, da intenção e até do idioma do nosso utilizador.

Ora, vejam como isso é possível. Eu por exemplo, nasci nesta frase:

"Eles tinham começado a explorar o planeta, quando... Zap! - os alienígenas começaram a disparar."

Quem escreveu isto podia ter usado um dos clássicos "Bang! Bang!" famosos nos livros de "quadradinhos", mas achou que, como aquela história era de Ficção científica, os alienígenas deviam ter armas mais modernas, talvez com um som mais sofisticado. Assim nasci eu: um ilustríssimo e polimorfo "Zap". Polimorfo, sim! Aliás, como quase todas nós, Onomatopéias. Desde que nasci, que sou utilizado nas mais diversas situações: "....Zap! desapareceu num piscar de olhos"; "Zap! carregou no botão da televisão.." ; " Zap! Escorregou na casca da banana" ; " Zap! Sacou-lhe a carteira, enquanto o diabo esfrega o olho" e as mais variadas formas de me usar poderão nascer. Basta alguém usar a imaginação e assim o querer. Mas basta de falar de mim. Talvez vocês apreciem alguns exemplos dos meus parentes. Por exemplo o famoso Bang! Bang!, pode ser uma arma a disparar ou alguém a arrombar uma porta. Talvez o Bang! Bang! até nem seja rapaz de muitas formas, mas que é famoso, lá isso é! É até bastante universal. É pena que este meu parente, tenha uma personalidade tão violenta, mas nem todos somos assim. Como vos já disse, somos a classe dos músicos e na maioria das vezes, até somos bem divertidas. Não é à toa que os poetas e as crianças nos adoram! Ora vejam só:

Triim! Triim! - o telefone tocou; Ring! Ring! - a campaínha soou; Toc!Toc! - alguém entrou; Chuac! Chuac! - alguém se beijou; Miau! Miau! - o gato miou; Crash! - algo se quebrou; Cu-co ! Cu-co! - o cuco cantou e as horas anunciou; Tic-tac! Tic-Tac - o relógio de pulso todo o dia não parou; Chlép! Chlép! - alguém se deliciou; Tum! Tum! - o bébe com o tambor brincou; Dlim-Dlão - o sino soou; Vruum! Vruum! O carro acelerou; E eu que sou "Zap!", uma Onomatopeia bem rápida por sinal, que já estou farta de aqui estar, tal como vocês provavelmente de me aturar, vou mesmo agora fazer Zap daqui para fora.

Zap!

 
 
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