A ILHA
Eloi Xavier
 
 
Eu era uma das centenas de criaturas humanas que se moviam pela praça. Passava quase o tempo todo sentado num banco vendendo pulseiras, anéis e bolsas de couro.

Às vezes alimentava os pombos, lia as manchetes dos jornais, misturava-me com curiosos aglomerados em círculos assistindo ao mágico, ao sanfoneiro, o vendedor e o homem de terno preto que falava sobre salvação.

Atrás das lentes escuras do meu óculos observava as pessoas, enquanto o sol cozinhava minha mente, mesmo com a proteção do chapéu.

Acendia um cigarro e olhava a fumaça se perder no ar.

Me sentia uma ilha, mesmo tendo tantas pessoas ao meu redor. E tudo o que via era apenas oceano. Uma ilha, perdida no atlântico, sem dono, distante de tudo.

Quando o sol se ia, arrumava minha mochila e partia. Mas a ilha continuava ali, no mesmo lugar, nada derrubava aquela ilha. Nem tempo, nem tempestades.

No dia seguinte voltava ao mesmo local. Carregava comigo uma pedra pendurada no pescoço, uma bolsa com minhas mercadorias pendurada na costa, e uma ilusão pendurada na mente.

Avistava barcos e navios ao longe, que se aproximavam e desviavam-se de mim. As pessoas não percebiam que dentro de ilhas existem tantas riquezas. Mesmo para aquelas que vendem pedras do pouco valor, e que suas vidas parecem tão falsas quanto o que elas têm a oferecer.

 
 
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