PROMESSA
Kleber Carrilho
 
 
Lembrou-se do que Maria tinha dito no dia do casamento. Que ele jamais a traísse. Que, se estivesse querendo outra mulher, contasse para ela primeiro. Ela compreenderia, se separariam, e aí ele poderia ficar com a outra.

- Senão eu mato você e a cachorra. Eu juro.

E era mulher de fazer isso mesmo. Mulher geniosa, aquela que ele escolhera para ser mãe de seus filhos, embora não tivesse nenhum. Dez anos de casados...

Lembrou-se novamente do dia do casamento. Marisa estava no altar, era madrinha da irmã. Até então não tinha acontecido nada. Mas ela já mostrava aquele olhar que o faria mais tarde desconsiderar a ameaça da mulher. Marisa era linda. E geniosa também.

- No dia em que não quiser mais nada comigo, conto a ela que você me possuiu na marra.

Era outra ameaça com a qual tinha que conviver.

Mas, depois de começar a freqüentar a igreja e o pastor dizer que ter uma amante era viver em pecado, decidiu-se por abandonar Marisa. Contou a ela, calmamente, que amava Maria. Disse ainda que ela era jovem, que conseguiria um outro homem. E ela disse que tudo bem, que poderia deixá-la, mas que cumpriria o prometido: contaria para Maria. Tentou convencê-la. Ela ficou chorando, mas parecia convencida a não tomar a atitude.

Passou a tarde no escritório preocupado. Pensou no que a mulher faria se a cunhada realmente contasse. É lógico que ela não o mataria. No máximo, teriam uma briga e tanto. Mas ele explicaria tudo, diria que era um novo homem, agora com um coração limpo. Só poderia ter uma mulher, e ela era a escolhida.

Mas e se ela fosse embora? Pensou em ligar. Não, não seria bom explicar por telefone. Era melhor esperar o fim do dia.

Quando voltou para casa, já tinha anoitecido. Entrou no quarto. Ela não fora embora. Estava lá, deitada na cama.

- Boa noite, Maria!

Não teve resposta. Maria não cumpriria mais a promessa.

 
 
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