BAILE DE FORMATURA
Luiz Fernando Kiehl
 
 
Vestindo um smoking alugado, João dançava com a filha em seu baile de formatura.

De repente, uma voz profunda e suave, bem atrás dele, chamou sua atenção. Não teve a menor dúvida de que aquela voz era de Maria.

Teve medo da desilusão. Que aparência teria agora aquela que fora sua primeira namorada? Ou seria apenas uma voz parecida, uma peça pregada pela memória?

Com o coração mais acelerado, deu lentamente uma volta completa ao ritmo da melodia e dirigiu o olhar em sua direção. Era ela! Dançando com um rapaz simpático, certamente seu filho, ali estava a sua querida Maria, ainda mais bonita, agora que seu rosto revelava experiência e maturidade. Os mesmos longos cabelos castanhos, os mesmos olhos verdes misteriosos, os mesmos gestos elegantes e até o mesmo sorriso. Na mão esquerda um lindo brilhante enfeitava a aliança.

Manobrou a filha de modo a permanecer voltado para a antiga namorada. Quantos anos tinham naquela época? Dezessete, dezoito, não mais, foi ainda no tempo do colégio. Lembrava-se de que o namoro só durara alguns meses. Por que foi mesmo que tinham terminado?

No princípio, Maria não o notou. Aos poucos, porém, na medida em que João a encarava com insistência, a sua testa franzida foi revelando que ela buscava aquele rosto nas profundezas da memória. Depois, um leve sorriso indicou que, finalmente, ela se lembrara. Ele também sorriu, reconhecido.

Durante o resto da seleção de foxes antigos ficaram se namorando em silêncio e, de repente, tudo à sua volta desapareceu e só os dois dançavam entre as estrelas.

A música era Smoke gets in your eyes e era o baile de formatura de Maria. Dançando de rosto colado, a mão esquerda deixou a da namorada e alcançou seu ombro num carinhoso abraço. Ele sussurrava coisas românticas e lhe beijava de leve a face, sentindo o corpo de Maria colado ao seu. Estava apaixonado novamente como só ficamos uma vez, aos dezessete anos.

A orquestra fez uma pausa. Os outros casais retornaram para suas mesas e eles voltaram de um passeio pelo passado distante para a morna felicidade do presente. Não se falaram. Trocaram, ainda, um último olhar cúmplice cheio de entendimento e um sorriso triste que dizia tudo.

A música recomeçou. Alguém falou com ele, desviando a sua atenção. Não pensou mais nela. Quase no fim do baile, olhou distraído na direção da mesa de Maria. Já estava vazia, mas João notou que, sobre a toalha branca, duas rosas vermelhas se tocavam. Ele compreendeu a mensagem e desejou em silêncio: "Boa noite, Maria."

 
 
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