UMA TARDE NA LIVRARIA
Jamac
 
 

Eu não estava muito certo do que fazer, mas resolvi passar a tarde daquele domingo na livraria, que parecia um shopping, só que de livros. Antes tinha muito mais livros. Hoje mudou. Mudou muito. Agora você encontra discos, papéis, aparelhos de som e televisores. Livros mesmo têm pouco.

Bem, mas ainda havia alguns. E logo me vi entre volumes, cores, caras, capas, contos e heróis de papel. Tinha até um coffee shop. Café e conhecimento, pensei. Escolhi quatro, (falo dos livros), eram eles: Obra Poética Completa de Garcia Llorca, Noites Tropicais de Nelson Motta, O Homem a Descoberta de Sua Alma, de Jung, e Estado de Ideologia de Mannhein. Olhei para aquilo que havia escolhido... fui coerente. Aliás para que ser coerente? Nós geminianos não somos muito coerentes. Às vezes dizem que somos meio contraditórios, ou que mudamos muito de opinião. Never mind, como diz um amigo meu, geminianos não são instáveis, na verdade eles têm estabilidade na mudança! Ora, esse é um pensamento coerente, imagino. "Chamemo-lo de estabilidade dinâminca", dizia o Pedro.

Sentei na cafeteria e comecei a folhear, pedi um café. A moça perguntou com ou sem açúcar. Olhei perplexo: ela estava pertubando minha leitura. Como assim? imaginei, sem nada lhe responder, voltando a folhear os livros. Ela insistiu na pergunta. Aí não teve jeito, eu respondi: tanto faz, eu não gosto de café mesmo! Chocada, ela foi pegar o café. Acho.

Acho até que trouxe. E sem antrax . Tanto que estou escrevendo esta história. Sei que muitos vão achar que isso foi um erro da moça do café. Eu poderia não estar escrevendo. Folheio e bebo o café, quando, de repente. De repente, uma morena ... uns olhos verdes.

Mexo em livros, folheio textos, abalado por absurdos olhos verdes. Deliro: de que poema saíram, de que aventura? Será um romance, será um soneto, um minueto ou um dueto? Um sonho?

"Qual tanta beleza encerrava porventura?
Mereceria um alexandrino, um verso de preciosa rima e correta métrica."

Vagueio, mais Machado de Assis, mais Bandeira, mais Vinícius.

- Drummond ... Que preciso?

Vou falar com ela? Não. Sim. Não. Sim. Não não... sim sim sim... Como começo?

- Que procura, quem procura, para quê a procura?

- Procuro uma personagem ou um autor, um texto - sou uma impostora!

Olho de novo. Novamente ... aqueles olhos verdes sentam, cruzam as pernas coloridas pelo sol, como diria Chico Buarque.

Abro o livro, disfarço, me refaço, busco com a ponta dos olhos. Vou ao "coffe shop". Não! Eu já estou nele. Peço mais um curto e mais uma água.

Olho pelo interior do shopping, viro a página. Nem sei mais o que vou querer. Levanto. Irei até ela. Decidi. Levanto e tudo se passa assim: Ajeito os óculos derrubo um livro recolho o livro derrubo outro entorno o café na mesa ao lado volto para ajudar e cai a mesa e ...a moça foi embora... fecho os livros, pago a conta e vou para casa, quem sabe, escrever um poema.

 
 
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