O BEIJO DE MARIA
Alberto Carmo
 
 
Era como um ímã, colava-se à boca. Vinha imerso em fluidos desconhecidos, temerosos até. Quem o teve jamais esqueceu.

Causava na língua um tato misterioso, contundente. Luta insana seria esmagá-lo, consumi-lo.

Tocá-lo causava ânsias indescritíveis, daquelas que nos embotam o equilíbrio, e nos dobram as pernas.

Misturá-lo a outros sabores seria um pecado imperdoável, pois como uma mescla de líquidos da mais pura alvura, ele nos trai, leva-nos a precipícios dos quais não tornaremos.

Que alquimia insana, que temperos enlouquecidos fazem-no assim tão perturbador? Que feitiçaria lucreciana esconde-nos esse banquete enganador?

Não! Não pense que exagero. Antes, sou vítima daquele manjar de deuses enlouquecidos. Perdi-me à procura de algo que me salvasse do cataclismo final. Busquei ácidas ervas, etílicos ungüentos. Mas nada, nada me livrava daquele veneno acre, que me consumia as entranhas.

Em vão tentei evitá-lo. As lembranças de meus ancestrais não me permitiam recusá-lo - fora educado pelos grilhões do cavalheirismo. Não me cabia outra sina, que não fosse aceitá-lo, calado, no mais sublime sacrifício.

Ele me chegava tépido, trêmulo, a servir-me de seu mais cruel segredo. E eu, por refúgio digno de um homem não encontrar, entregava-me novamente aos seus diabólicos ensejos.

Maria um dia se foi. E fiquei a lembrar-lhe o que me servia. Num misto de enjôo e fobia. Quem sabe um dia...

 

 

 

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O ARROZ DE MARIA

Era como um ímã, colava-se à boca. Vinha imerso em fluidos desconhecidos, temerosos até. Quem o teve jamais esqueceu.

Causava na língua um tato misterioso, contundente. Luta insana seria esmagá-lo, consumi-lo.

Tocá-lo causava ânsias indescritíveis, daquelas que nos embotam o equilíbrio, e nos dobram as pernas.

Misturá-lo a outros sabores seria um pecado imperdoável, pois como uma mescla de líquidos da mais pura alvura, ele nos trai, leva-nos a precipícios dos quais não tornaremos.

Que alquimia insana, que temperos enlouquecidos fazem-no assim tão perturbador? Que feitiçaria lucreciana esconde-nos esse banquete enganador?

Não! Não pense que exagero. Antes, sou vítima daquele manjar de deuses enlouquecidos. Perdi-me à procura de algo que me salvasse do cataclismo final. Busquei ácidas ervas, etílicos ungüentos. Mas nada, nada me livrava daquele veneno acre, que me consumia as entranhas.

Em vão tentei evitá-lo. As lembranças de meus ancestrais não me permitiam recusá-lo - fora educado pelos grilhões do cavalheirismo. Não me cabia outra sina que não fosse aceitá-lo, calado, no mais sublime sacrifício.

Ele me chegava tépido, trêmulo, a servir-me de seu mais cruel segredo. E eu, por refúgio digno de um homem não encontrar, entregava-me novamente aos seus diabólicos ensejos.

Maria um dia se foi. E fiquei a lembrar-lhe o que me servia. Num misto de enjôo e fobia. Quem sabe um dia...

 
 
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