HAJA ENERGIA!
Maurício Cintrão
 
 
Está lá no pote de Toddy: um beijo movimenta 29 músculos. Deve ser para vender mais do achocolatado que, antes, era bebida de criança e, hoje, pelo jeito, deve ter um bom público adolescente e beijador. Quem tomava Toddynho e fugia de beijos, agora tem certas preocupações que nem mamãe conhece. Os fabricantes descobrem cada coisa com essas pesquisas de mercado!

Imagino que a idéia geral da mensagem seja alguma coisa como: para fortalecer os músculos beijantes, tome Toddy. Vire um atleta do beijo. Aliás, os produtos desse gênero vêm gastando suas energias para vender a idéia de que oferecem energia. É como se, para ser saudável e feliz, todo sujeito precisasse ser capaz de escalar rochas de ponta cabeça, pular feito canguru com bicicletinhas e fazer musculação alucinadamente. Ah, e consumir muitos produtos alimentícios e energéticos.

Quero deixar bem claro que não tenho nada contra achocolatados nem contra propaganda. Não faço contra-propaganda. Eu, por exemplo, sou fã incondicional dos dois principais concorrentes do mercado: o próprio Toddy e o Nescau. Em casa, a crianças preferem o primeiro. Eu vario entre os dois, até porque bebo muito desses pós com leite e beijo dedicadamente (delicadamente, também). Sou guloso em se tratando de preparados com chocolate e beijos.

Ando meio relapso ultimamente, devo declarar. Perguntem à Dona Regina. Não tenho tomado tanto achocolatado ao leite como deveria. Falta energia. Daí que tenho dado uns beijinhos de peixe em aquário. Nada parecido com aquelas ventosas de antigamente, de grudar gancho de toalha no azulejo. Pera, pera! Vamos cuidar da imagem. Não é assim também. Na hora do tcham, não sou dançarina de axé, mas sou pura emoção. Nesses casos, o beijo é beijo de gente grande, tipo "mamãe eu quero", se é que me faço compreender.

Mas, no dia-a-dia, fica aquela coisa de beijinho cordial, o tal selinho que até o Sílvio Santos dá no Gilberto Gil. Veja só que coisa: do Chacrinha que distribuía bacalhau ao homem do milhão, evoluímos todos. E não há ironia nisso. Acho bonito dois homens cumprimentarem-se aos beijos. O Jô introduziu a prática na TV nos primórdios do seu programa de entrevistas. Foi um choque, à princípio, mas, hoje, é sinal de respeito e admiração. Para mim, isso é evolução. E me desculpe o Fábio Gomes Barros, que já vai dizer que "rolou um clima, pintou um sentimento".

O Fábio é presidente do BoioClube, lá da Gréia, aquele site do Recife sobre o qual vivo falando (www.greia.com.br). O BoioClube dá pontos às bichices do pessoal da lista. Não lembro qual a pontuação de homem que beija homem, mas com estas declarações por escrito, devo ter descolado uns 300 pontinhos no BC, no mínimo, com direito a bônus (aumento da pontuação por sugestão dos associados). Ainda mais quando falo que ando sem energia para beijos. Devo levar (no bom sentido) pontuação dobrada.

Acho que é melhor tomar um coquetel de Toddy e Nescau, fazer uns exercícios de aquecimento - tipo aqueles das moças do islã, que gritam lululululu -, e dar um güento na Dona Regina agora mesmo. Porque, dependendo do desânimo das declarações dela ao público, o que era para funcionar apenas como uma gracinha ao longo de uma crônica pode ter conseqüências catastróficas. Como, por exemplo, encontrar na porta do escritório uma fila de promotoras de achocolatados cheias de energia para dar.

 
 
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