A INSÔNIA QUE MATOU A VELHA ALZIRA
Paulo Andrade
 
 
Vivendo junto com Ana há dois anos, Cléber apenas conhecera pessoalmente sua sogra poucos dias antes do casamento. Isolada no interior de Minas, Dona Alzira veio ao Rio de Janeiro somente às vésperas do casamento de sua filha, o que não desagradou o noivo de Ana.

Ana conheceu Cléber em uma discoteca em Copacabana, animado e galanteador, a moça logo cedeu aos seus encantos. Logo após o primeiro encontro e, conseqüentemente, a primeira relação sexual, a moça ficou grávida.

Apavorada devido a situação e como reagiria Cléber ao saber da criança que ela esperava, Ana ligou para Alzira, sua mãe.

Furiosa, Dona Alzira pediu o telefone do "ORDINÁRIO" à sua filha, que ingênuamente deu.

Cléber havia acordado tarde de uma farra que tivera com os amigos em um "inferninho" perto de sua casa e o telefone tocava sem parar. Vencido pela insistência do aparelho, o rapaz pegou o telefone furioso e com uma voz de poucos amigos, esbravejou:

- O que é?

O susto pela repentina voz, tranformou-se rapidamente em raiva por Dona Alzira que rapidamente perguntou:

- Eu queria falar com um ORDINÁRIO chamado Cléber. Você conhece?

Cléber se assustou com as palavras da mulher e perguntou quem estava falando e depois de ouvir várias ofensas, perguntou:

- O que eu fiz, sua velha chata ?

- Você engravidou minha filha Ana, cafajeste .

Assustado com a notícia, Cléber largou o telefone deixando a velha com uma raiva ainda maior, lembrou de Ana com quem saíra poucas vezes, mas que tinha cultivado um afeto que parecia-lhe não correspondido .

Recobrado do susto, Cléber tornou a pegar o telefone e explicou toda a situação à Dona Alzira que começou a falar mais docemente ao ouvir as palavras do jovem. Passados alguns meses, Cléber e Ana se casaram e foram morar na Lapa. Bem longe da mãe de Ana que ele já vira que era uma peste.

Cansada da vida do interior de Minas Gerais e querendo gastar o dinheiro de seu falecido marido, sogro de Cléber, Alzira telefonou para a filha e comunicou que estava indo para o Rio de Janeiro, o fato caiu como um raio na cabeça do casal, principalmente de Cléber. Porém, após vários protestos por parte de Ana, Cléber acabou cedendo à vinda da "Velha Alzira", como ele chamava a sogra.

Uma semana de sua estadia e as brigas entre Alzira e Cléber se tornaram normais. Na hora do almoço era o jeito com que Cléber comia, à noite era Cléber que ficava indignado com o ronco da velha. As noites começaram a ser para o homem, longas horas de insônia que lhe consumiam a paciência.

Após várias noites de insônia devido ao ronco forte do motor antigo da velha Alzira, Cléber passou a pensar como poderia acabar com aquela coisa que tomara seu lar e "só voltaria para Minas Gerais em um caixão" como ela dizia .

A idéia de levar a velha de volta à Minas Gerais em um caixão não desagradava Cléber, mas havia Ana com quem a velha era muito chegada, e apaixonado o homem não pensava em tal loucura. Noites, dias, meses se passaram até que se revirando na cama com as trovoadas noturnas de sua sogra, Cléber decidiu: VOU MATAR ESSA VELHA, E VAI SER AGORA!!!

O homem, trêmulo, pegou a faca mais afiada na cozinha e partiu em direção ao quarto da sogra. Respirou fundo e levou a faca próximo ao peito barulhento da velha e nesse rápido gesto, pensou e acabou desistindo. Pensou em multiplas fómulas assassinas, sempre refutadas na última hora: jogar água quente no ouvido da velha? ou dar um tiro na cabeça daquele encosto?

Chateado por não ter coragem de mata Alzira, Cléber foi ao banheiro lavar o rosto. Olhando sua imagem refletida no espelho o homem percebeu que sua sogra estava vencendo a batalha: barba mal feita, cabelos nas alturas e um hálito de latão de lixo.

Mas de repente, o ronco ensurdecedor da velha sogra parou... será que a mala bateu as botas? pensou Cléber. Saiu em disparada pelo corredor e só restava abrir a porta pra constatar que a velha acabara de morrer. Cléber chegou na frente do quarto e quando preparava-se para abrir a porta... A porta subitamente se abriu e num grito frenético, a velha caiu pra trás ao ver um homem de barba mal feita, cabelos nas alturas e um cheiro horrível. Na queda, a velha bateu com a cabeça na cama e sucumbiu ao susto de ver Cléber, porém até hoje Ana acha que foi pelo bafo do marido que sua mãe morrera.

Ana chamou a polícia e Cléber foi chamado a depôr por homicídio culposo e a velha voltou a Minas Gerais em um caixão, como sempre dizia a própria.

No depoimento, o acusado declarou :

- A INSÔNIA QUE MATOU A VELHA !!!

 

 
 
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