MOMENTOS DE TRANSIÇÃO
Luiz Fernando Kiehl
 
 
Há certos momentos em que a nossa vida dá uma parada e entra em compasso de espera. Às vezes isso acontece quando já estamos com as malas prontas, a passagem e o passaporte no bolso e o táxi que vai nos levar ao aeroporto ainda não chegou.

Ou, então, quando a gente está mudando de emprego. Já liquidamos todos os assuntos que até há pouco eram da nossa responsabilidade e ainda não tomamos conhecimento dos que irão fazer parte da nova etapa profissional. Ficamos sentados à nossa mesa vazia, damos uma última olhada nas gavetas para ter certeza de que não esquecemos nada e esperamos a hora de nos despedirmos dos que conviveram conosco.

Também acontece naquele dia em que, tudo devidamente empacotado, terminamos o café da manhã e ficamos aguardando na poltrona da sala o momento em que o caminhão de mudanças vai parar na frente da casa, pondo em movimento toda uma engrenagem que só terminará muitas horas depois, em uma outra casa que ainda não ousamos chamar de nossa.

Ou ainda, na hora em que acabamos de fazer o laço na gravata, conferimos no espelho se o fraque está em ordem e nos sentamos à beira da cama de solteiro, esperando a hora de ir para o nosso casamento.

São momentos muito especiais, esses em que ficamos como que levitando a alguns metros do chão, livres dos problemas da etapa que acaba de terminar e ainda não sabemos os que vão aparecer em seguida.

É nesses momentos, ao mesmo tempo prosaicos e iluminados, que deixamos de pensar nas milhares de providências a tomar e um arrepio percorre as nossas costas. Será que a nossa decisão foi certa? Não dá mais para voltar atrás e só o tempo trará a resposta.

Uma campainha toca, alguém nos chama, quebra-se o encanto daquele momento solene e, quase sem nos darmos conta, entramos em um novo capítulo da nossa biografia.

 
 
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