COISA DE LOUCO
Tania Crivellenti
Engraçado como não existe coisa mais maluca do que gente normal. Sabe, gente séria, executivos, engenheiros, técnicos, publicitários, marketeiros, analistas...

É que se você disser que um louco está tentando convencer uma vaca a cantar a aquarela do Brasil, tudo bem, é louco mesmo.

Mas as loucuras nada sutis de gente que devia ser padrão, são ótimas. Veja o meu caso, para começar, marketeira industrial, uma carinha tão normal... só falo dormindo. É o que diz o meu marido. Às vezes acho que a imaginação é dele, mas nunca se sabe.

A melhor das histórias é aquela onde me sento, acendo a luz, e 3 dedos em riste (palavrinha estranha, consta do Aurélio, como diria o Prata) declaro em alto e bom som: "tem três coisas: a primeira é porque não foi porque não vai ser porque será; a segunda foi porque não é porque não será o que não foi; e a terceira.... AH! que se dane a terceira!" deito e durmo. Fica meu querido espectador me olhando no escuro, sem nada ver, é claro, e sem saber o que significa tudo aquilo.

Mas até que eu sou normal. Veja minha amiga, ela dormia tranqüila e formosa quando é acordada com uma droga de som de um alarme de uma casa nas vizinhanças. Já irritada volta a dormir. Até aí, tudo bem. O problema é quando 5 minutos depois é acordada pelo seu marido, que está gritando dormindo, imitando a sirene: UUU ÉÉÉÉÉÉ UUUUU ÉÉÉÉÉÉÉÉÉ UUUUÉÉÉÉÉÉÉ.... O tal autor da façanha, engenheiro, certinho, gente séria, nega tudo. Até a morte.

Tem aquele amigo da outra empresa que latia, rosnava e dançava a dança do ventre em cima da mesa do chefe com a maior desenvoltura. E ainda jurava que seus papéis de trabalho eram sexuados, já que de um dia para o outro, se reproduziam que nem coelhos.

Agora, boa é a história do chefe. Executivo, destes que viajam para outros países. Estava ele numa viagem particularmente longa, cheia de escalas, e tinha um filhinho pequeno. Se encantou com os talherezinhos do avião. Sem pensar muito embolsou o primeiro conjuntinho (maravilha isso do homem sempre ter um bolso na camisa, né?) e, sem pensar nem um pouco, embolsou o segundo par de talheres, o terceiro tinha a colher também. Lá pelas 20 horas de viagem a camisa estava até pesada, e ele se esqueceu de só um detalhe ao desembarcar: o detetor de metais. TÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉ... nenhuma onomatopéia é capaz de explicar a vontade de desatarraxar a cara de pau de colocar junto com os garfinhos na bandeja para poder entrar no aeroporto.

Mas de todas as insanidades, tem que ser a de um publicitário a que ganha o prêmio. O dia já não era como outro qualquer. Destes dias que a agência parece que vai explodir só com a energia de seus integrantes, como átomos que se chocam e agitam. O telefone não pára, clientes irritados, reuniões importantes, a turma de criação gritando lá em cima. O nosso personagem trabalha no atendimento, tem uma sala que divide com mais duas colegas, e uma lata de lixo que uma destas colegas tem predileção especial em chutar (algumas coisas nunca são revistas, a posição de uma lata de detritos é sempre sagrada). Esta colega é do tipo desastrada, quando agitada acerta a lata na ida e na volta. E o tal publicitário não consegue pensar em nada mais enlouquecedor do que ver todas as suas intimidades espalhadas pelo chão diversas vezes ao dia. Não fica nada sem demonstração, se espalham os post-its, os clipes enferrujados que a gente sempre tem vergonha de jogar fora, crime ecológico, sabe, e o papel que você amassou sem querer e teve que imprimir de novo, e aquele que prova que você rabiscou duas folhas todinhas, frente e verso e nem tem idéia do que o chefe estava falando enquanto isso, sem falar nos milhares de copinhos de café e da casca de banana e do papel de chocolate que você não dividiu com ninguém. Bom, o dono da lata de lixo ameaçou o dia todo: "eu vou te bater, se você chutar o meu lixo de novo, eu vou te bater!", mas a moça, grávida e agitada não pode fazer muito quando seus pés insistiram na rota conhecida e acertaram o lixinho, que num de seus melhores vôos alcançou a incrível marca da parede oposta.

Loucura foi quando o dono da lixeira, com toda a sua forma atlética de pêra, deu um peixinho, que nem jogador de vôlei, se jogando no chão, diretamente aos pés da perpetradora do crime, segurou a perna com as duas mãos e mordeu-lhe a canela! Imagine a cena! A filhinha da vítima imaginou e não gosta do moço que mordeu a mãe até hoje. E dizem que ela ainda tem a marca, que é para ninguém dizer que a louca era ela.

 
 
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