SUPUNHETANDO
Eduardo Loureiro Jr.

A gente nunca sabe quando uma daquelas besteiras que aprendemos na infância vai ser útil, emergindo do passado distante para servir como resposta a um aperreio de momento ou mesmo para redefinir o sentido da nossa vida: "Supunhetamos e invaginemos que, de repentelhos, o mundo virilha se acabar. Que siririca de nós? Nádegas, oh que pênis!"

A maior parte das decisões que tomamos na vida é feita não com base em garantidas certezas, mas em suposições sobre o futuro. Se o futuro fosse certo, e não suposto, não haveria decisões difíceis a serem tomadas, o cálculo de ganhos e prejuízos seria simples, todos saberíamos exatamente o que fazer.

Mas não, supomos, apenas supomos, e o ato de supor, como dizia a infantil sabedoria pornográfica, é similar ao ato de bater punheta, de se masturbar. Porque a masturbação é um sexo suposto, em contraposição ao sexo possível; o sexo perfeito, ao invés do sexo real.

Pode-se masturbar a qualquer hora, enquanto que o sexo a dois depende também do horário da outra pessoa, que trabalha, estuda, passeia, tem amigos e, mesmo que esteja fisicamente presente, às vezes está a fim, às vezes não.

É possível masturbar-se pensando em quem se queira, supondo qualquer pessoa como parceiro, e não apenas naquela com quem por casamento, namoro ou qualquer outro compromisso de fidelidade se convive em determinado momento. Pode-se transar, supostamente, tanto com a atendente da lanchonete quanto com a estrela de cinema.

Não bastassem essas facilidades - todas supostas, é claro -, a masturbação não apresenta contra-indicações, como o sexo real. Não se tem notícia de ejaculação precoce na história da masturbação: todo gozo vem na hora certa, nunca antes ou depois do gozo da outra pessoa que, apenas suposta, desaparece do pensamento assim que o ato solitário é consumado.

Outra coisa que não afeta a masturbação é a impotência. Aposto que nunca nenhum psiquiatra, psicólogo ou andrologista recebeu um cliente queixando-se de que não podia fazer sexo devido à moleza e insegurança de seu pênis diante da mão amada.

Mas o maior alívio que alguém sente ao trocar o sexo com uma pessoa específica pela masturbação com qualquer pessoa suposta é a ausência de avaliação pós-coito. Não há necessidade de se perguntar para a própria mão, "Foi bom para você também?", muito menos de ficar imaginando que nota sua mão direita dará para a sua performance quando estiver conversando sozinha com sua mão esquerda.

No sexo, assim como na vida, supomos para decidir e para atuar. Na masturbação como conceito de vida, bem como de sexo, supomos para continuar supondo, e supondo, e supondo, até que, por força das circunstâncias, das pressões sociais ou da própria mão, temos que agir de alguma forma, lançarmo-nos, derramarmo-nos, ejacular.

Suponha, supunhete então! Vive-se mais feliz supondo do que agindo. As coisas são mais perfeitas na suposição.

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