QUASE AMOR, SIMPATIA
Humberto Bley Menezes

- Aceita dançar?

- Como? Desculpe sou casada. Não sei...

- Não sou ciumento. Permite?

- Desculpe. Estou acompanhando minha filha.

- Você está sozinha. Estou vendo. Tão linda.

- Obrigada. Não sei. Acho que não.

- Esta rosa é para você por favor, aceite.

- Por favor senhor, eu aceito, mas meu marido...

- É um bolero...

- Não, é uma valsa.

- É. Na verdade entendo muito pouco de música. Gosto. Mas, a vida me levou por outros caminhos. Quer saber, na verdade eu nunca dancei, nunca frequentei um baile, nunca tive em meus braços uma mulher.

- Por favor. Não exagere. Olhe... Me deixe pensar. Daqui a pouco eu resolvo. Obrigada.

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- Pensou?

- Está bem, uma só.

- Acho que estou louco. Nunca em minha vida tive tamanho arrojo. Eu te agradeço por aceitar, mas me desculpe, não sei dançar. Você é minha música, meu ritmo, minha esperança de não decepciona-la.

- Acho que você dança bem.

- Obrigado, Simone.

- Como sabe meu nome?

- Não sei, mas acho que este nome freqüentou a minha vida. Realmente também não sei. Acertei? Como pode? Escute, Simone é o nome que embalou todos os meus sonhos. Não sei porque, mas sempre soube que a minha felicidade estava ligada a este nome.

- Estás brincando comigo... Por favor, estamos muito juntos. As pessoas...

- São dois pra cá, dois prá lá. Você é maravilhosa...

- Obrigada... Minha filha está olhando... Não exagere.

- Não resisto.

- Por favor... Encoste os lábios ao meu pescoço. ... Fale mais. Não... Pare...

- Pense que meus lábios podem percorrer além de seu pescoço, minha língua está ansiosa para percorrer seu colo, e, mais além, circundar seu umbigo, descer em seu sexo e coxas, lamber seus pés, tirar seu fôlego e desmaiar de paixão.

- A música...

- Desculpe. Mas estou neste momento vivendo algo que nunca havia sentido.

- Eu compreendo. Está bem. Você está me tirando do sério. Sou casada.

- Desculpe. Acho que realmente passei do limite. Na verdade fiquei louco, ou, achei o amor da minha vida.

- Você me tirou do sério. Não brinque comigo. Eu... paixão. Fale mais, seja sincero.

- Embora você não acredite, estou sendo eu mesmo como nunca fui, jamais me senti assim. Será que é paixão? Estou sentindo suas coxas mais disponíveis aos passos mais desejados, solte-se. Nada mais acontece neste salão, a não ser a música, nós dois, e a volúpia que embala o ritmo de nossos corpos.

- Tenha piedade, nem ao menos sei seu nome. Tá bem, estou completamente seduzida. Farei tudo que você quiser mas por favor seja discreto, todos nos olham. Minha filha está nos observando, contenha-se.

- Ela está sorrindo...

- É verdade. Está com certeza se divertindo a minha custa. Será que ela me compreenderá?. Na verdade não quero mais pensar nisso, aperte-me, beije meu pescoço, me leve daqui. Ai, meu Deus. Te adoro. De onde você apareceu, meu amor? Querido...

- Vamos para a minha casa?

- Vamos, Alcides.

- Que surpresa! Como descobriu?

- Acho que nasci para amar alguém com este nome. Acertei?

- Na mosca. O inconsciente se manifestou nos fatos e na vontade, somos as metades que se juntaram pela força do amor.

- A música acabou. Por favor tire a mão do meu decote, podem reparar.

- Sabe, minha vida começou aqui. Vamos embora. Venha comigo.

- A menina, minha filha. Está bem, me entrego ao destino, vamos.

- Se somos ou estamos loucos nos entreguemos a loucura. Ela que nos aguarde. Salve a loucura. Viva o prazer.

- Também estou feliz.

- Meu amor.

- Minha paixão.

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- É aqui, querido?

- É meu amor, aqui termina esta noite e começa o resto de nossas vidas. Onde estão as chaves?

- Você deixou com nossa filha. Ela ficou com o carro; a chave, no chaveiro.

- Puta que pariu. Deste jeito não há tezão que agüente. Assim não dá.

- Calma querido. Achamos outro jeito. Vamos para um motel?

- Motel? Você quer ir para um motel? Tá maluca, mulher? Vou levar a mãe da minha filha pra um motel em plena sexta feira. Ficar na fila com adolescentes gozando nossa cara? Vê se te enxerga, cansei dessa tal de fantasia sexual. Vá a merda, pois eu vou dormir na garage.

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