O NOME DELE É SÉRGIO
ou
MINÚSCULO ENSAIO SOBRE A SIMPATIA
Rodrigo Contrera

Sempre que a Cris e eu acabamos de atravessar a avenida João de Luca e pegamos a rua José Neves em direção à Avenida Interlagos, passamos em frente à uma mecânica onde quase sempre fica parado um sujeito de uns cinqüenta anos, alto, meio grisalho e que olha para o infinito. Como a mecânica chama-se Sérgio Sellmer e ele tem um certo ar de dono de mecânica, tão logo o divisamos comentamos entre nós: "olha lá o Sérgio".

Nunca falamos com ele. Sequer sabemos se ele é mesmo o tal do Sérgio. Nunca passamos na mecânica nem ligamos para lá. Simplesmente aquele sujeito é o Sérgio, para nós.

Uma tarde passamos em frente à mecânica e ficamos, a Cris e eu, imaginando de brincadeira como seria um shopping Sérgio Sellmer. A Cris imaginou algo muito maior: um centro automotivo Sellmer. Rimos durante alguns minutos. O Sérgio tornou-se, para nós, referência para alguma coisa.

Outro dia, vimos um cachorro postado em frente à mecânica. É um daqueles grandes, com focinho alongado e pêlo liso e longo. O cachorro era marrom e olhava para o infinito assim como o "nosso" Sérgio. Comentamos: "olha aí o cachorro do Sérgio". Rimos. Notamos também que o Sérgio verdadeiro - não sabemos se o "nosso" - aumentou a mecânica, comprando um outro espaço na rua, logo ao lado. Agora ele conserta também motos.

A gente nunca se pergunta se o Sérgio verdadeiro é aquele que a gente vê quase todo dia nem se ele é alegre, chato, calado, falador, honesto, desonesto, preguiçoso ou trabalhador. Não passa pela nossa cabeça descobrirmos como o Sérgio de fato é.

A gente apenas gosta dele; ele nos é simpático. Ele é algo que a gente sente e que aparece sei lá por quê.

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