... E A VIDA?
Bruno Freitas

Viver é preencher espaços vazios...

Preencher vagas em estacionamentos, horários em consultórios médicos, assentos na sala de espera, expediente de trabalho, enfim, lugares melhores ao sol. Preencher os espaços vazios é perder tempo nos pequenos afazeres cotidianos, e nunca saber o quê fazer. Entrar numa fila de banco, aguardar sua vez no trânsito, esperar aquele indivíduo distraído que entrou na sua frente sem perceber, pra poder seguir caminhando em frente.

O espaço ocupado por cada um, deve ser decorrente da necessidade daquela pessoa em estar naquele lugar. Enquanto você segue apressado para um lado, logo ali na sua frente existe alguém completamente despreocupado com o que puder lhe acontecer. Também quantas vezes, você não esteve tranqüilo e desligado, observando aquele indivíduo aflito e agitado que em ti tropeçou.

Cada hora é a hora de outro alguém ocupar mais algum espaço vazio. Por mais que você tenha muitos espaços vazios pela frente, sempre vai deparar com algum obstáculo inusitado, que lhe atrasou mais do que devia. Você sempre estará em busca da oportunidade de flagrar o momento especial, seja no sinal vermelho do semáforo da esquina, até a hora que sua senha toca no monitor da sala de espera.

Sempre será uma nova conquista de novos ideais, sua vez no supermercado, seu bom lugar no cinema, sua cachaça da hora, e sua dose diária de oxigênio com gás carbônico on the rock's. A busca não muda, o que mudam são os ideais. Se ontem você quis bife, arroz e feijão, amanhã você vai querer não sei o quê, com batatas fritas. Depois vai querer variar o prato, vai querer estrogonofe com batata palha, escalopinho de filé, filé mignom ou lazanha de banana. Tudo aquilo que você viu no programa da Ana Maria Bregga.

Daí é bom ter paciência, que você vai ter que esperar, pois com certeza, vai haver alguém na sua frente, que já havia pensado nisso antes. Vai existir alguém com mais urgência que você, alguém que não vai querer esperar, e sendo assim, vai tomar sua vez, seu brinco, e seu colar, e até sua sapatilha de basquete. Tem sempre outro alguém, que tem como função; impor os direitos de todos, em detrimento a todas as vontades supremas e exacerbadas de cada um de nós. Mas esses, jamais estão perto quando seus direitos são infringidos, e pelo contrário, estarão perto sempre quando for sua vez de infringir o direito de outro alguém.

Você tem de contentar-se em esperar sua vez na fila. Depois, é só preencher o espaço que lhe foi destinado, e desocupá-lo assim que acabar o que tinha a fazer. Pois, atrás de você vem alguém nem tão apressado assim, mas talvez até um pouco mais estressado que você. E é nessa hora que você percebe que a vida é preencher espaços vazios. Esperar o sinal verde acender, a sua senha piscar, seu telefone tocar, e se conectar. Esperar sua vez, olhando a vida passar.

Porém você vai estar tão ocupado preenchendo espaços vazios, que perderá a oportunidade de vislumbrar o momento especial. Vai lembrar-se vagamente de um passado distante, e vai perceber que na busca pela felicidade, encontrou-a em todos os pequenos acontecimentos rotineiros. Mas como disse eu já uma vez, a vida é preencher espaços vazios, e você jamais vai ater-se a qualquer outra coisa, a não ser preencher todos os espaços vazios que lhe forem destinados.

Pois, mesmo as mais simples atividades essenciais para a manutenção da vida, são para preencher os poucos espaços que ainda nos restam. Vivemos então, no paradoxo de seguir vivendo, preenchendo os mesmos espaços vazios, que jamais trarão nossa felicidade.

O resto é seguir vivendo, sem saber o porquê, mas preenchendo todos os espaços vazios...

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