DE SONO E PREGUIÇA
Bruno Freitas

"Foi Inútil... Juro que tentei compor uma crônica de amor, mas tudo pareceu tão fútil".

As Cilibrinas do Éden invadiram a Serra da Cantareira, e depois seguiram voando para o cemitério da Consolação, e as maravilhosas letras das músicas do Sergio Sampaio não me saem da cabeça...

Os programas televisivos e reluzentes pelo aparato elétrico do tubo de imagem, me enchem de sono e preguiça. A legenda que devia estar na tela, mas não está, continua a me perseguir. Corre um boato que eu teria uma vontade escondida lá no fundo da minha bexiga, mas que a preguiça adquirida, impede qualquer ação evasiva até o banheiro mais próximo, que é tão próximo, mas que de repente ficou tão longínguo.

A televisão ligada me embala como criança, num sono bom e tranqüilo, com trilha sonora e tudo, que minhas pálpebras descansam durante o comercial. Naquela posição, as legendas inexistentes tornam-se casacatas de letras na posição vertical...

Fui derrotado, brigando num ringue contra o sono e a preguiça, que me assolaram a alma, transformando-me num zumbi dos palmares. Escuto vozes ao léu, e se falam comigo eu não sei, apenas distantes e hesitantes.

O barulho insuportável de uma serra elétrica interrompe a ordem natural dos fatos. Não seja bobo? Ninguém usa uma serra elétrica no meio da noite. Isso é o barulho do sono da minha preguiça, caindo em cascata bem em frente aos meus olhos cerrados. Como num quadrinho, visito meu sono, sob o olhar atento da televisão ligada.

- Como fez para diminuir de tamanho? Esse tal de Aligátor?

Continuo seguindo as Cilibrinas do Éden até a Consolação, de ouvir o primeiro e único som dos violões de Rita Lee e Lúcia Turnbull. Enquanto isso, o Sergio Sampaio continua ecoando no sonar do Hi-Fi da minha cabeça. Cale a boca, que seu bloco já foi pra rua!

Que preguiça é essa que impede o instinto natural do homem de satisfazer-se fisiologicamente? Pois, engraçado falar em fisiologias... Sonhei que fazia um xixizinho ao ar livre, num ato de irrigação voluntariosa aos arbustos naturais da cidade. Parecia não ser verdade, e na verdade, perecia nem existir arbusto ou qualquer outra coisa real. Parecia que estava em pleno espaço, flutuando pelo universo e mijando nas estrelas. Aquele líquido amarelo-verde e quente subia pelas minhas costas, desafiando todas as leis de gravidade.

Flutuando pelo espaço eu me sentia o Superman, namorando as Cilibrinas do Éden, que o balaio do Sampaio me seguia, para além da nuvem fria, que nos atraia e compelia.

Um bonequinho de biscuit me acordou pra me dizer que eu estava todo mijado, e havia perdido o passaporte espacial. Acordei ensopado de mijo e suor, todo grudado no sofá de couro industrial. Levantei-me e fui ao banheiro extremamente arrasado, por ter sido atrasado, e ter arrasado o sofá, que joguei fora alguns anos depois, sem mais suportar o cheiro do mijo que só existia na minha cabeça.

Nesse meio tempo, as Cilibrinas do Éden acabavam, o Sergio morria, e eu continuava nessa nuvem fria, que me atraia e compelia.

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