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CONTOS COLETIVOS

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O QUE TRAZES PRA MIM?
a páscoa na casa dos Serafim
 
 

O suor já escorria pelas costas de Domitila, fazendo com que o professor ficasse mais atento ao serpentear da gotinha sortuda do que à pulsação da moça. Graças à idéia magnífica de Dona Gertrudes de comemorar a Páscoa na chácara, tinha que dobrar o treino na academia. Ela não podia enfrentar aquela família, numa piscina, sem estar com absolutamente tudo no lugar. E sabia também que isso era um pouco de maldade sua, já que a visão de Maria Regina e Maria Helena de biquíni era digna de propaganda de sabão em pó: nunca houve um branco tão radiante.

Na verdade, ela estava irritada por ter que viajar sozinha para São Paulo. Cássio estava em Guadalajara desde a semana anterior, para um treinamento na sucursal da empresa, e ficaria por mais quinze dias. Para variar tinham discutido ao telefone, quando ela disse que não iria àquele churrasco estúpido sozinha. Mas ele disse que ela não faria uma desfeita daquelas e era praticamente um dever familiar... Um churrasco dos Serafim! A Terra corria o sério risco de deslocar-se do seu eixo...

*****

No bar decadente o chão encardido combinava com as paredes manchadas pelas sombras imaginárias de uma lâmpada queimada. Sentado numa cadeira que não ia lá muito bem das pernas, Cunha encheu com cuidado o copo de cerveja, a espuma um dedo acima da borda. O primeiro gole seria inesquecível pelos próximos cinco minutos, mas antes disso uma voz encheu o ambiente:

- Falaê, gente boa!

Sem saber bem por quê, Cunha sentia-se intimidado pelo à vontade de Laerte, que foi logo passando a mão no copo caprichado e matando nos peitos.

- "Seo" Vicente, vê aí outro copo aqui pro Cunha! Acendeu um cigarro, soprou a fumaça bem nas fuças do outro e anunciou:

- Adivinha quem me ligou hoje? Cunha franziu a testa e esperou pelo pior.

- A tua mulher! Cunha gaguejou:

- A Ercília? O outro corrigiu:

- Que Ercília, Cunha?! E a Ercília lá é tua mulher? Eu tô falando da que vale, cara, da Maria Regina!

A tonteira foi rápida, veio e passou, mas Cunha sabia que a pressão estava nas nuvens. Com medo de um apagão, aviou a receita:

- "Seo" Vicente, vê lá uma pura! Dupla!

O outro falava mas ele não entendia. O quê que Maria Regina poderia querer com essa figura? A dose dupla de cachaça queimou o duodeno. A voz do Cunha continha labaredas:

- Ligou pra quê? Laerte arregalou os olhos, exagerando:

- E você não sabe? A Páscoa! Vai ter festa na casa da Dona Gertrudes na Páscoa! Aliás, o Raul também foi convidado. Já-já ele chega aqui pra gente combinar quem é de quem, porque a gente não queremos confusão!

Não, ele não sabia de nada. Desde o aniversário de Maria Regina que a sua relação com Ercília tinha esfriado. Mas mesmo assim continuavam juntos. Será que também a tinham convidado e ela não lhe tinha contado? Duvidava. Ercília, apesar de tudo, não o queria largar, e se tivesse de o fazer, não o queria perder para Maria Regina. Mas ele sentia-se dividido. Estava embrenhado nos seus pensamentos, quando de repente uma voz o atirou de novo para o bar e para a presença irritante de Laerte, que agora morava em São Paulo e parecia ter um sensor localizador de Serafins, já que vivia encontrando com alguém da família nos lugares mais absurdos possíveis. "Até no meu boteco vagabundo", resmungou Cunha mentalmente - "preciso mudar de bar, porque esse figura agora vem aqui todos os dias". Era Raul quem chegava, e antes mesmo de sentar dizia com sua voz aveludada:

- Então já sabem que este ano a velha teve a idéia de festejar a Páscoa na Chácara? - Cunha murmurou um quase imperceptível "Laerte falou-me disso agora". Laerte decidiu interromper antes que a conversa se alargasse:

- Tive uma idéia! Uma idéia magnífica! Nós três de uma forma de outra queremos Maria Regina. Certo? Eu tenho a certeza que eu sou o seu eleito. Mas que tal aproveitarmos a festa para tirar as teimas e acabar com a confusão? Raul e Cunha olhavam-no estupefactos, espantados com tamanha arrogância, emudecidos de espanto. Laerte continuou:

- Vamos fazer uma brincadeira: Maria Regina deverá eleger um de nós três como o seu Coelhinho da Páscoa! O escolhido ganha Maria Regina. Mas ela não deverá saber do acordo!

Raul e Cunha engasgaram-se simultaneamente com a surpresa.

Apesar do inusitado, a idéia de ser eleito Coelhinho da Páscoa movimentava as fantasias das cabeças masculinas. No pacote de Páscoa estariam incluídas brincadeiras muito íntimas e Maria Regina sabia ser insinuante como ninguém. Isso era suficiente para atingir em cheio a libido deles. Cunha soltou a frase sem querer:

- Tudo bem que pode ser piração da minha cabeça, mas e se ela quiser brincar com os três coelhinhos de uma vez?

Laerte ainda sem fôlego e já ficando excitado com o papo solta a frase de efeito:

- Maria Regina é muito esperta, vai ficar irada se descobrir sobre o acordo. Ela vai colocar os três no bolso e sair com um quarto coelho que não tava na história, só pra provar pra gente que sabe ganhar uma parada.

O Raul fez de conta que não ouviu as insinuações e partiu para a sua definição de "mulher considerada interessante":

- Cara, estou super a fim de brincar de Coelhinho com ela sozinho, não gosto de dividir mulher, ia ficar sem jeito. Essa história do Cunha achar que é o "queridinho" é tudo balela pra gente não ficar de olho na bela dama. Aliás, deixa falar - o que me encanta é que Maria Regina não é só uma mulher com um corpinho caixa de sabão branco total. O que me atrai nela é a percepção, é forma poética como ela demonstra os sentimentos. E fica só entre nós, mas esses conjuntinhos sumários de lingerie que... - interrompeu-se em tempo, pensando em como seria ridículo e constrangedor descrever as roupas íntimas de Regina para o ex-marido dela - Hum-hum, mas continuando, outro dia sonhei com ela posando nua para uma revista masculina, ia ser uma das poucas vezes que iam ter um "corpo que pensa" ali. Eles ficam sempre colocando aquelas garotas jovens, lânguidas e acho que ela ia ser um sucesso, uma mulher de meia idade e inteiraça, cheia de charme e, além de tudo, inteligente. Lembro da Regina menina, sempre com um livro de poesias nas mãos...

Laerte e Cunha trocaram um olhar, rápido o suficiente para que concluíssem que haviam pensado a mesma coisa: "que papo mais boiola!".

*****

Dona Gertrudes avançou pela trilha secreta que conduzia ao topo do Mirante Umpalumpa, de onde tinha um domínio visual perfeito das áreas abertas da Chácara Serafim.

Das áreas fechadas, um circuito interno acabara de ser instalado, pelo melhor profissional alugável - Eustáquio - o criador da câmera especial instalada dentro da privada da Casa dos Artistas. Tudo seria gravado.

"Agora vou tirar a Família da lama", sorria Dona Gertrudes. "Venderei o compacto da Páscoa dos Serafins. Abravanel e Marinho lutarão pelados para conseguir o contrato".

Faria tomadas de Raul, Laerte e Cunha lutando como os três patetas. A dança ritual dos Serafim e os gêmeos se afogando, como sempre. Sua imaginação era insuficiente para cogitar todas as possibilidades.

Eustáquio se apresentou. Estava fantasiado de governanta, num uniforme repleto de microcâmeras ocultas. Tão perfeita era a caracterização, que até Gertrudes ficou na dúvida. "Nossa, ele está parecendo DEMAIS com a Regina, só que duas décadas mais jovem".

No ano passado, o Cunha dera um biquíni branco de presente para Regina, e, quando ela se deu conta, estava parecendo nua. Por sorte, Regina tivera a presença de espírito de ficar de costas junto ao muro branco da piscina, perfeitamente mimetizada com uma toalha branca toucando-lhe os cabelos. Lá ficou até o anoitecer, quando todos estavam jantando.

- Não posso permitir que Regina ou Helena iludam nossas câmeras.

- Pinte o muro de laranja - sugeriu Eustáquio, treinando uma voz feminina que se aproximava muito do timbre de Regina, há vinte anos atrás - Somente uma pessoa muito bronzeada e de roupa laranja escaparia deste contraste.

- Grande idéia - disse dona Gertrudes colocando as mãos na cintura, olhando confiante para seu território - Nada me escapa! Ninguém me escapa!

*****

Para colocar seu plano em prática sem que as filhas desconfiassem de nada, a velha arranjou a desculpa de que estava cansada demais para trabalhar e ordenou que Regina e Helena ficassem responsáveis pelo almoço. As irmãs, que estavam mais amigas e unidas depois do aniversário de Regina, começavam a demonstrar novamente sinais recíprocos de stress. A primeira discussão foi em torno do cardápio:

- Vamos fazer bacalhau! Com batatas, bastante azeite, arroz branco, um suflê de queijo e está resolvido - palpitou Helena.

- De jeito nenhum... bacalhau na Páscoa é muito comum Helena, vá ao supermercado e veja aquela fila de gente pra comprar um pedaço de peixe fedido... definitivamente precisamos fazer algo diferente - retrucou Regina - Vamos assar peixes na churrasqueira e incrementamos com molho vinagrete e requeijão.

- Que peixe mulher, que peixe? Páscoa é bacalhau, oras... sempre foi assim e você vai querer mudar este ano agora?

- Justamente, vamos mudar tudo, chega das mesmas coisas repetidas todos os anos na Páscoa, no Natal, no Reveillon. Compramos atum e salmão, um robalo, um dourado talvez. E de sobremesa, hum... vamos ver... - divagou Regina, que há uma semana sonhava em comer as bolachas recheadas de chocolate que eliminou durante a promessa na quaresma, sem portanto conseguir eliminar o fantasma do Cunha da sua vida.

- Já sei - Helena interrompeu a salivação da irmã - a Aline copiou ontem uma receita de ovo da páscoa trufado no programa da Ana Maria Braga. Se não me engano, copiou também uma de colomba pascal guarnecida com sorvete de creme e calda de amora silvestre, e dá pra gente preparar na hora de servir mesmo, já que na chácara tem aqueles dois pés de amora que devem estar carregadíssimos.

- Boa idéia, se a Aline puder ajudar nesta parte vai ser bom - tentou se livrar da tarefa Regina, lembrando-se da Páscoa de 97, quando se meteu a derreter chocolate e fazer ovos crocantes, mas na medida que ia aprontando os bombons, as crianças iam devorando tudo, e não rendeu absolutamente nada, a não ser um festival de vômitos e diarréias na molecada. - Ensine como derreter chocolate no microondas, facilita um bocado, tenho as formas de ovos e bombons guardadas em casa, a Aline já está bem mocinha para ajudar, não?

Recebeu um olhar faiscante da irmã, que preferiu não responder ao comentário.

*****

Regina havia decidido: não seria mais a bobona. Colocaria todos para trabalhar. Se cada um fizesse sua parte, ela teria mais tempo para sentir-se mulher, coisa absolutamente recente para ela. Deixara passar tanta coisa em sua vida, na tentativa de ser perfeita. Super-prendada, fazia de tudo, mostrava serviço. Agora se perguntava, de que lhe servira tudo isso? Raul revelou-se uma decepção. Percebera tarde demais, talvez, que Cunha não era tão ruim como ela pensava. Laerte? Um bronco. Um babaca.

Regina agora era uma mulher em explosão. Explodia para a vida. Tudo isso acontecendo e ela ali, organizando um almoço com a irmã, aquela falsa. Precisava arrumar um jeito de chamar a atenção, fosse como fosse. Eles que esperassem. Teriam uma surpresa. Principalmente Domitila e Ercília. Mal sabia Regina do que estava por vir. Se ela tivesse a mais remota idéia das câmeras... se ela tivesse idéia da proposta indecente de Laerte para Raul e Cunha...

*****

Enquanto isso, na chácara, sob os olhares atentos de dona Gertrudes, o Eustáquio instalava duas câmeras camufladas nas amoreiras, que ficavam bem ao lado da piscina e da churrasqueira, prometendo imagens em ângulo de 270 graus.

Eustáquio suava atrás da matriarca Serafim. Sabia dar ordens, a velha. Sabia o que queria. Porém Eustáquio era bastante profissional. O trabalho sairia perfeito. Gertrudes sorria nervosamente. A idéia de ver e saber "certas" coisas a excitava.

*****

Quem não estava nada excitado com a situação era o Cunha. Como aqueles dois idiotas poderiam pensar numa coisa daquelas? Disputar a "sua" mulher? Estava disposto a fazer uma loucura. Não poderia admitir o nome da mãe de seus filhos em bocas de Mathildes. Iria, ainda que sem convite, àquela festa e mostraria a todos "quem é o Cunha".

"Vou mostrar quem é o Cunha!" continuava a pensar enquanto manobrava o carro para atravessar o portal com a cafonérrima inscrição "Chácara Serafim", cercada de folhas e flores na tabuleta da entrada. Subiu a suave rampa que atravessava o gramado e margeava a piscina sempre com aquela idéia na cabeça. "Eles pensam que eu sou um babaca, mas eu dou a volta neles... eu sou esperto... no meu modo de vista, eu saco as coisas". Laerte, ao seu lado, de carona como sempre, sorria com aquele sorriso branco de anúncio para a mansão que já se avistava atrás das amoreiras "deve estar avaliando o preço do golpe do baú..." pensou, maligno, o Cunha. Mas apenas comentou: "aquelas amoreiras são a paixão da Dona Gertrudes". Laerte não teve tempo de responder e quase perdeu alguns dos belos dentes no porta-luvas porque o Cunha parou abruptamente ao avistar o carro do Raul colado ao da Regina no estacionamento perto da casa. "Será que chegaram juntos? Filho de uma cadela! A gente combinou que a 'gincana sexual Páscoa 2002' só começava aqui!".

Estacionou rapidamente o carro e, antes mesmo de socorrer Laerte, que apertava o maxilar dolorido, abriu a porta e correu desabalado em direção à piscina, no caminho pegando uma caipirinha com uma garçonete esquisita que lembrava vagamente uma drag-regina.

Sua ex-mulher estava deitada sozinha na beira da água, com um biquíni laranja quase da cor da parede em frente. Que mania esta mulher tem de combinar a roupa com a decoração! Mas que ficava bem nela, tinha que admitir. Agora bronzeada (fizera uma temporada num spa especialmente para isto) e malhada, Regina resplandecia sob o sol forte de março. Aproximou-se tentando parecer galante, o que foi impossível após escorregar no chão úmido e liso da borda e cair de joelhos diante dela, o copo voando em direção ao tio Nestor, que o aparou como um goleiro, para alegria dos pestinhas que se esbaldavam dentro da piscina. "Tomara que se afoguem outra vez!"

Regina levantou um olhar de tédio "Oi, Cunha...". Sem desanimar com a introdução, ele iniciou o discurso ensaiado:

- Rê, tem uma coisa que eu preciso te contar... não sei se você vai ficar chateada comigo, mas não posso te deixar fazendo papel de otária para dois babacas.

Regina ergueu as sobrancelhas, imitando uma artista de televisão (treinara durante horas na frente do espelho) e respondeu, fingindo não estar curiosa:

- Que história é esta agora?

- É uma coisa meio chata de te dizer, mas aquele Laerte... - os dois olharam para o rapaz que reaparecia esfregando o queixo, saindo do banheiro da sauna - Ele propôs uma gincana aqui no churrasco da Páscoa entre o Raul, ele e eu, para ver quem fica com você!

Cunha despejou tudo rápido antes que o Laerte chegasse. O Raul, carregando um copo de batida, também se aproximava do biquíni laranja.

- O QUÊ?????? - Regina perdeu a pose e deu um salto, ficando de pé em todo seu esplendor furioso.

- Que babaquice é esta que você está inventando?!

Sob a brisa leve do outono, as amoreiras balançavam e junto com elas as micro-câmeras da empresa Avinovo Reality Show registravam tudo. Eustáquio sorria maquiavélico pensando que seu patrão Vilãomilloff ia ter muito material para futuras chantagens naquilo que fosse escamoteado dos Marinhos e dos Sílvios.

Cunha via Regina sem ar, quase da cor do biquíni, sumindo diante da parede laranja, enquanto em câmera lenta, Laerte e Raul se aproximavam. Tentou fugir, mas os meninos seguraram sua bermuda, que arrastou no impulso para baixo a sunga lilás exibindo ao vento o que Ercília chamava nas horas de raiva "os documentos falsos".

Puxando a sunga, Cunha foi salvo pelo gongo:

- Alfredo!!! - gritou Helena, e todos se voltaram para o garanhão do Rio que fazia uma entrada triunfal na zona da piscina com documentos mais do que verdadeiros, insuperáveis.

Do Mirante Umpalumpa, a velha Gertrudes observava tudo, registrando com uma câmera super moderna as certidões de nascimento, apólices vencidas e outras quase esquecidas virtudes masculinas.

*****

Alfredo se aproximou sorridente da borda da piscina, Dona Gertrudes grudou o olho direito na câmera e acionou o zoom. Testemunhou os detalhes do momento em que Alfredo perdeu a pose triunfal, escorregando e batendo com a cabeça numa mesa de ferro ao lado. Regina esqueceu o ódio que a consumia ao ver o homem cair e ficar desmaiado, uma perna dentro d'água. As crianças, que contavam com a ajuda do Bastos para nadar, começaram a afogar assim que o marido de Helena nadou em rápidas braçadas até a perna boiante de Alfredo.

Cunha ficou paralisado de surpresa, sem imaginar que ocultas na roupa da governanta Eustáquia as câmeras registravam o Laerte, qual um cavaleiro solitário, acudindo e levantando o ferido em seus braços. Dona Gertrudes abandonou sua super-moderna filmadora no Mirante Umpalumpa e passou em desabalada carreira por entre os pés de amoras, esquecendo suas limitações e só se preocupando com ele, com seu Alfredo.

Quinze minutos depois, estavam todos refeitos do susto e apenas Dona Gertrudes ainda insistia para que encaminhassem o vacilante Alfredo para o hospital mais próximo, que ficava a quarenta e oito quilômetros da chácara. Maria Regina cogitou amparar Alfredo, desde que alguém dirigisse, mas diante da possibilidade de ficar a sós com qualquer um dos três babacas alegou estar responsável pela refeição e sumiu cozinha adentro. O Cunha pensou rápido e, para não deixar Maria Regina a sós com o Raul e o Laerte, disponibilizou o carro para o Tio Nestor socorrer o ferido.

Tio Nestor alegou uma dor no ciático que o impossibilitava dirigir até o hospital e, por unanimidade (com o voto liderado pelo Cunha), Laerte acabou por ser escolhido, já que era o único que conseguiria carregar o Alfredo caso ele desmaiasse novamente.

Claro que antes ele relutou e insistiu para que o Cunha os acompanhasse, mas Maria Regina a sós com o Raul era algo inadmissível na mente do Cunha, que ainda sugeriu tratamento a base de gelo e repouso, já que o Alfredo aparentava estar bem. Mas Helena apareceu com um par tamancos brancos nas mãos, óculos de sol e bolsa e se propôs a acompanhar Laerte até a cidade.

Dona Gertrudes aceitou essa alternativa que parecia ser a ideal e despachou o Laerte como motorista particular da filha mais velha, que amparava o Alfredo no banco de trás. O Bastos não pôde sequer protestar contra a decisão da matriarca; ele precisava ficar e cuidar para que as crianças não se afogassem novamente.

Dona Gertrudes não podia admitir um homem como o Alfredo ficar com aquele galo enorme na testa, sem prognóstico médico. O que ela não sabia, no entanto, é que se tivesse aceitado a sugestão de Cunha, a essas horas estaria com dois doentes em casa. O Alfredo e ela, enfartada.

*****

Laerte entrou como se estivesse em casa, mas Helena tinha classe e relutou por um átimo de segundo enquanto seus olhos registravam todos os detalhes do quarto de motel. A cama era modesta, os lençóis puídos e o carpete gasto. No espelho do teto, uma mancha enorme anunciava que algum vazamento estava prestes a derrubar parte da laje. As cortinas desbotadas seriam de gosto um tanto quanto duvidoso, se fosse possível reconhecer suas cores originais por debaixo da poeira que as cobria.

Meia hora depois ela já estava esquecida dos detalhes. Sobre a mesa de canto, vestes femininas de cores modestas e corte elegante estavam dobradas criteriosamente. Na cadeira ao lado, um lingerie branco estava abandonado. Parecia que sua dona tinha se livrado dele bem depois das roupas e o arremessara de longe, acertando o alvo por poucos centímetros, o que justificava ele estar dependurado, quase desabando sobre os tamancos embaixo do assento.

No carpete, roupas masculinas largadas como se fossem empecilhos do qual seu proprietário se livrara sem critério algum. Jogadas sem lógica e sem simetria, quase que com fúria. A bota arremessada contra a parede acrescentou mais uma marca às tantas que já existiam e que provavelmente passaria desapercebida pela camareira responsável pela vistoria na saída. A outra bota repousava sobre a calça jeans, abandonada quase na porta de entrada.

Sobre a cama dois corpos se movimentavam ao ritmo de gemidos. Dois corpos suados, um branco, repleto de pequenas sardas, o outro moreno, queimado de sol. O contraste era bonito. O corpo do homem se movimentava num vai e vem erótico e debaixo dele o branco feminino estremecia a cada estocada. Sem aviso prévio, numa coreografia quase que ensaiada, a mulher movimentou-se e ficou por cima. Ele parecia estar cansado pelo esforço físico e antes que antecipasse um agradecimento pelo descanso que teria, a mulher posicionou o membro ereto com uma das mãos, empinou o corpo, fechou os olhos e mordeu o lábio inferior quando sentiu que era novamente invadida. Principiou lento movimento com as ancas, e foi aumentado o ritmo. Após alguns minutos movia-se alucinadamente, sua respiração era descompassada, sofrida. Ela gemia e seus quadris continuaram indo e vindo enquanto as mãos se fechavam no peito masculino, afundando as unhas por entre os pêlos negros. Como que possuída por um espírito insano ela gemia e mordia o lábio. De repente parou, foi arqueando o corpo por cima do homem até tocar sua fronte nos lábios dele, congelou na posição por um átimo de tempo e ressuscitou num grito, jogando a cabeça para trás. Sua cabeleira cor de fogo queimou os ares e chicoteou seus ombros e costas, como que exorcizando o demônio que a consumia. Liberta, ela deixou-se cair de lado, expondo os pêlos pubianos ao raio de sol que entrava por um buraco na cortina. Sob a luz solar, a púbis parecia uma tocha ardendo exatamente no centro de seu corpo.

Enquanto Helena se deixava ficar estendida na cama, seu amante se lavou. Voltou sem a toalha e nu pelo quarto procurou por cigarros. Encontrou-os no bolso da calça e em seguida, displicentemente, jogou os jeans, que bateram na porta e escorregaram pela madeira até cobrir a bota. Ele acendeu dois cigarros, colocou um nos lábios da mulher que foi verificar as horas no relógio feminino sobre a mesa.

- O tempo voa.

- Que horas são?

- Quatro e meia.

- Porra!

A interjeição não passou desapercebida pela mulher, aliás, ela pareceu que sentiu o palavrão ricochetar na pele. Seu parceiro não percebeu o desconforto causado pelo linguajar chulo e ela não protestou, apenas soltou uma baforada para o teto e comentou:

- O tempo parece que voa quando estou com você.

- Desde as duas horas que a gente está transando.

Helena não disse nada, só esboçou um sorriso e Laerte continuou.

- Sem tirar de dentro! Machucou você?

- A mim não, e a você?

- Claro que não, você tem ótima lubrificação...

- Tesão, puro tesão - falava enquanto se ajoelhava na cama e o abraçava por trás.

- Como diria o Cunha, "no meu modo de vista", eu só retribuo o tesão que você me dá.

- Não seja modesto, você é demais...

Estavam se beijando quando o interfone tocou. Ela atendeu, disse "ok" e desligou.

- Temos dez minutos para sair, acabou o período.

- Não tem um tempo de tolerância?

- Os dez minutos são a tolerância.

- Três horas com você e ainda falta tempo, quando a gente vai se encontrar novamente?

- Por mim a gente se via todos os dias, é muito gostoso estar com você...

- É, mas vamos embora ou não teremos desculpas que explique tamanha demora. Todos devem estar aflitos por notícias do Alfredo, principalmente Dona Gertrudes. Sem contar que sua irmã deve estar louca por explicações minhas, do Raul e do veado do Cunha, aquele traidor.

- Não estou preocupada com Maria Regina, mas que imbecilidade foi essa de vocês apostarem ela?

- Minha ruivinha, eu tenho que entrar sempre na deles para disfarçar o nosso caso.

- Vou fingir que acredito, mas não sei o que vocês vêem na Maria Regina, uma lambisgóia azeda, sempre de nariz empinado. Hoje, vestida toda de laranja, parecia uma cenoura se oferecendo para o coelhinho da páscoa.

O olhar de Laerte ficou enevoado enquanto ele lembrava do corpo de Regina brilhando de óleo de bronzear. Ah, Regina... Voltou a prestar atenção em Helena, que fitava-o com olhos de cão:

- Tá com ciúmes da própria irmã?

- Bobo. Deixe de ser convencido e me beija.

Ele beijou a boca oferecida de Helena enquanto seu pensamento novamente voava para as costas de Regina, os ombros de Regina, os cabelos de Regina...

*****

Uma hora depois o interfone tocou novamente. Era a recepção avisando que estava iniciando a contagem da tolerância do período extra. Mais dez minutos. Helena começou a se vestir e elaborar detalhes da desculpa para parecerem convincentes. Estava com um bom álibi, pois o médico local, após exames, recomendara a internação do Alfredo por vinte e quatro horas. Nada grave, simples observação médica. Bendita intervenção médica que a livrara de um desconfortável encontro às escondidas na casa de máquinas da chácara, o único lugar em que ela imaginou ser possível passar momentos agradáveis e rejuvenescedores com Laerte. Quantas rugas ela havia perdido desde que, por coincidência, reencontrou Laerte no shopping? E pensar que não precisou muita conversa; bastou Laerte confessar que tinha uma tara por ruivas e Maria Helena, a santa, se lembrar da frase que escutou Maria Regina soltar para Ercília e Domitila na noite anterior: "Que pé de mesa". O suco de laranja ficou esquecido na mesa, ao lado do copo de chopp, enquanto eles corriam para o primeiro motel.

O que Helena não imaginava é que se as câmeras registrassem cenas idênticas às do dia seguinte ao aniversário da irmã, Dona Gertrudes cairia dura nos braços do competente Eustáquio. Enfarte fulminante.

*****

Após receber a ligação de Laerte, confirmando que Alfredo estava bem e que eles haviam conseguido convencer o médico a liberar o impaciente doente após apenas seis horas de observação, Dona Gertrudes havia conseguido acalmar seu coração. Já estava quase anoitecendo quando um carro alugado entrou raspando as laterais na porteira, guiado por uma Ercília furiosa e trazendo como passageiros Domitila, Arnaldinho e a bebê Roxana, que acordou aos berros com os solavancos do automóvel.

Ercília freou bruscamente ao lado do carro do Bastos e em menos de um minuto já tinha descido e invadido a sala, gritando pelo nome do alvo de todo o seu rancor:

- ANTENOR!!! AN-TE-NOR!

Cunha saiu de um dos quartos, olhar calmo e mãos cerradas.

- Oi, Ercília. Fez boa viagem?

- Boa viagem deve ter feito a pqp! Como você OUSA vir pra cá sem me avisar nada? Agora é assim? Eu fico sabendo dos seus passos pela D. Gertrudes? Sim, porque se ela não tivesse ligado para a Domitila para passar o endereço desse fimdemundodaporra eu nunca ia saber que você estava aqui, ficaria que nem uma idiota tentando ligar para você o final de semana inteiro!

Cunha não se abalou. Pegou no cotovelo da Ercília e foi conduzindo-a para fora, onde imaginava que teria alguma privacidade.

- Olha, Ercília, o negócio é o seguinte, eu já estou de saco cheio desses seus barracos. Eu vim pra cá hoje porque precisava conversar com a Regina...

- Uma...

- Ssschhhhiiii! Estou falando! Precisava conversar com a Regina, porque aqueles idiotas do Laerte e do Raul resolveram que iam rifar a minha mulher... minha ex-mulher, mãe das minhas filhas, e isso eu não admito. E não avisei porque faz quase um mês que não nos vemos e, pelo que ouvi dizer por aí, você tem saído com o Alfredo. Aliás, o Alfredo rachou a cabeça na piscina hoje.

Ercília sentiu uma vertigem.

- Como assim? O Alfredo... ah, meu Deus! Machucou muito? Ele corre risco de vida??? Onde ele está??? E as lágrimas começaram a brotar, manchando a maquiagem em tons de terra que ela tinha retocado com tanto cuidado no auto-posto alguns quilômetros antes.

Domitila, que tinha acabado de entrar com a filha no colo, apenas olhou para a irmã. Um olhar fulminante, que foi prontamente captado pela câmera oculta no penteado da Drag-Regina, que passava por ali.

*****

Do alto do Umpalumpa, D. Gertrudes ria até perder o fôlego. Bem feito pra Ercília, mais bem feito ainda pra Domitila, que estava toda prosa, pensando que ia ter um final de semana inteirinho para reconquistar o Alfredo.

- O Alfredo... ah, o Alfredo... - e ao lembrar do Alfredo, aquela expressão enleada tomou conta das feições da velha mais uma vez.

Afastando os pensamentos pecaminosos com um aceno, D. Gertrudes procurou lembrar-se do que já tinha visto em seus monitores: o Cunha contando a verdade para a Regina. O tombo do Alfredo. Maria Helena fugindo do Bastos e se enfiando no carro com o Laerte. O Raul escondendo-se de Regina depois de ouvir dois ou três gritos. As crianças se afogando. Tio Nestor paquerando Eustáquio, certo de que era uma moça de família. Regina sozinha no quarto, olhando pensativa para o espelho. O Cunha batendo na porta e entrando. Raul no banheiro, batendo a cabeça na parede. Regina e Cunha conversando. Regina chorando. Cunha consolando. "Bela surpresa, o Cunha. Aposto que ele pega a Regina ainda hoje".

Repentinamente teve a atenção despertada para a cena que aparecia em um dos monitores:

- Mas que é isso? Que cara é essa que o Bastos está fazendo?

Aumentou o áudio para tentar escutar o que o genro estava falando ao telefone.

*****

- O quê? Não senhora! A senhora deve estar enganada! Eu é que sou o marido da dona do celular! E não estivemos em motel nenhum! Como é que a senhora vem me dizer que ela esteve aí com o marido e esqueceu o telefone? Que conversa é essa??? É uma brincadeira? Pois vou avisando que é de muito mal gosto! O quê??? Respeito, eu exijo respeito! Que conversa é essa? Minha mulher foi levar um amigo para o hospital! Como é que o homem podia ir com ela num motel se está...

A cara do Bastos contorceu-se toda. "Laerte!". Ele jogou o aparelho celular na parede e começou a dar voltas em torno de si mesmo, enlouquecido.

- FILHOSDAPUTA! Eu aqui como um parvo ensinando criança a nadar e ela lá, no motel, com aquele tipo cafajeste! EU NÃO ACREDITO! Mas é hoje que a cobra vai fumar, ah, se vai... eu MATO! EU MATO!!!

Àquela altura todos os membros da família tinham entrado na sala e cercavam o homem, que só repetia "eu mato! eu mato!". Todos gritavam ao mesmo tempo e os móveis tremiam com a correria. Domitila, aproveitando a confusão, desceu a mão na cara da irmã, que continuava chorando, preocupada com a saúde de Alfredo. Maria Regina apareceu do nada e impediu o cunhado de agredir o Cunha, que se colocara na linha de visão do recém-notificado corno manso. Raul quase chorou quando viu a cena, "então quer dizer que o Cunha ela defende? Porque eu fui quase massacrado na festa de aniversário e ela não deu a menor bola...".

A velha Gertrudes levantou decidida. Ia dar um jeito de acabar com o qüiproquó agora mesmo. Chamou Drag-Regina-Eustáquio pelo rádio e pediu a ele que esperasse na porta da sala. Desceu mais uma vez correndo o morro, para afoguear bem as bochechas enrugadas e, braços dados com a copeira/técnico de vídeo, entrou na sala.

Quando se viu no meio da confusão, colocou a mão sobre o seio esquerdo e soltou um grito agudo.

*****

Pura cena, é claro. De olho nas possibilidades do material gravado e sabendo que o caso de Alfredo não era assim tão grave, Dona Gertrudes simulou um enfarte.

Percebendo o truque, Eustáquio aparou o corpo sem que a velha sofresse qualquer arranhão, mas fazendo tamanho escândalo que induziu a platéia a acreditar no problema cardíaco da matrona.

- Seus monstros! gritava o Drag-Regina - Vocês não se preocupam com essa pobre senhora em pleno Domingo de Páscoa!!!???

De olhos fechados, Dona Gertrudes achou um pouco exagerada a performance do colorido câmera, mas como sabia da importância do apelo popular na TV, considerou seriamente a inclusão desses exageros nos próximos roteiros.

Certa de que a máxima do falecido ainda valia ("se tiver criança, bicho ou velhinho, vende"), Dona Gertrudes vangloriou-se, ainda simulando o enfarte:

- Família boa é assim, tem de tudo! Só falta o Coelhinho da Páscoa!

Nesse exato momento, uma buzina soou lá fora. Eram Helena, Laerte e Alfredo. Cunha agiu rápido e enfiou alguns comprimidos de dormonid na boca de Bastos, que acabou engolindo todos com o susto. Antes de desmaiar sobre o sofá, teve tempo de apontar o dedo para a cara de Helena, que estava sob o umbral:

- Eu... vou... ... ma...ta... aaaaáaarrrr...

Helena arregalou os olhos e suas bochechas ficaram de um vermelho vivo, enquanto todos os olhares dirigiam-se para um ponto atrás de sua cabeça.

- Alfredo!

- Alfredo...

- Oh, Alfredo!

- Que bom, Alfredo!

Todas as mulheres da casa, sem exceção, murmuraram o nome de Alfredo, que exibia aquele sorriso de derrubar torres gêmeas enquanto seguia em direção de D. Gertrudes, já esquecida de seu falso enfarte.

*****

Domingo de páscoa, dia amanhecendo. Helena abriu os olhos, desperta pelos gritinhos felizes dos meninos que corriam pela grama. Eustáquio havia escondido dezenas de ovos coloridos entre as plantas e agora seguia as crianças, trajando um vestido branco que era a cara do vestido de formatura que Regina havia usado há vinte anos.

Com um suspiro, Helena olhou para o lado e viu a cara do marido afundada no travesseiro molhado. "Coitado", pensou. "Com tanto calmante, vai passar o dia inteiro dormindo e babando". Sentiu uma pontada de dor de cabeça ao lembrar da conversa com Laerte na noite anterior: "Olha, Helena, eu tenho que te falar uma coisa... não fica triste comigo, mas é que naquele dia, no shopping, eu achei uma ótima idéia a gente ter um casinho. Só que não dá pra continuar. Você é casada e eu não vou mentir, só penso mesmo na Regina. Nossa transa é ótima, mas paixão é outra história, entende? E eu acho que tô apaixonado pela sua irmã. Vai ser uma dureza convencer a Regina de que não tivemos nada, mas acho que isso interessa pra nós dois, né? Eu vou negar até a morte e acho que você deve fazer o mesmo... tocar a vida, ruiva, tocar a vida".

Helena afastou a cortina e viu Regina, esticada numa espreguiçadeira à beira da piscina. De um lado Laerte, do outro Cunha. Com os óculos de sol escondendo os olhos, Regina parecia mesmo uma rainha, dando migalhinhas de atenção ora para um, ora para outro.

Do outro lado da piscina, Domitila fingia dormir, mas não tirava os olhos de Alfredo, que sentado embaixo do guarda-sol, contava alguma história no ouvido da velha Gertrudes. A matriarca sorria languidamente e acarinhava a mão do moço, possessiva. Helena esticou um pouco o pescoço e viu que o carro alugado de Ercília já não estava mais estacionado. "Deve ter ido embora. Coitada. Perder um Cunha a gente suporta, mas abrir mão de um Alfredo..."

Uma das crianças deu um grito e alguém vestido de coelho cor-de-laranja passou correndo em frente à janela. Ela apertou os olhos e tentou reconhecer quem estava por baixo da pelúcia fosforescente. A criatura então virou-se e seu rosto angustiado ficou visível: era Raul, que já começava a correr de novo, tentando escapar dos gêmeos que puxavam seu rabinho de pompom e gritavam musiquinhas pascoalinas a plenos pulmões. Ela sorriu levemente, enfiou-se dentro do maiô e saiu de casa, com um pedaço de chocolate na mão. "É, o negócio é tocar a vida, ruiva. Tocar a vida".

*****

Alguns dias depois, um funcionário do "Domingo Legal" faz um telefonema importantíssimo.

- Seu Gugu? Seu Gugu, o senhor tem que ver uma coisa... recebemos umas fitas estranhíssimas, parece que são autênticas. Uma gente maluca de pedra, tem desde de adultério e ameaça de morte até um coelho de pelúcia gigante e tombos ridículos. É, acho que era uma festa de páscoa. Pois é, quem mandou foi um tal Eustáquio... o nome não é desconhecido. Que tal preparar pra domingo que vem?