VIDA DE GOLEIRO
Felipe de Paula Souza

Vida de goleiro é fogo, não é? Quem já jogou futebol sabe do que estou falando. Mesmo que seja nas "peladinhas" de final de semana junto com os amigos, aquele que vai para baixo dos três paus está condenado a sofrer. Falo disso com muita propriedade, porque sou um desses que se prontificava a defender a meta dos ataques adversários. Antes que algum engraçadinho venha com a piada idiota que diz: Goleiro tem duas opções: Ou é viado ou é maluco. Desde já eu afirmo que me enquadro totalmente na segunda opção, sou completamente maluco.

Vamos falar um pouco sobre os goleiros. Vida dura, amigo...você pode estar jogando um bolão, pode estar pegando até pensamento, mas não adianta: Erra uma vez e já era toda a bola que você vinha jogando. Você defende pênalti, sai bem do gol, pega chute de fora da área, chute a queima roupa, você arrisca-se a sair arrebentado de campo, tudo isso, por melhor do que você faça é nada mais do que a obrigação. Se você errar, um errinho só, por menor que seja, prepare-se: Você vai ouvir coisas que os ouvidos mais delicados não estão preparados.

Lembro de uma partida que eu estava jogando com amigos meus. Tiveram a infeliz idéia de apostar a partida. Este jogo quase acabou com a amizade do pessoal e, por tabela, quase acabou com minha vida também. Começamos a partida e logo no primeiro lance um atacante adversário partiu em direção ao meu gol e um amigo meu, Zezinho, que estava jogando como meu zagueiro central foi em cima do cara e o derrubou. Pênalti. O sujeito que bateu mandou uma bola indefensável, lá no canto direito. Não era tão indefensável assim, pois eu voei até lá e mandei para escanteio. Na cobrança, tive que voar na cabeça do centroavante adversário e tirar a bola da cabeça do cara. E assim foi seguindo o jogo. Nosso time era um pouco mais fraco do que o outro e por isso tomamos uma pressão infernal o jogo todo. Aos quinze do primeiro tempo o lateral esquerdo deles mandou um petardo que deixou o meu peito quente até hoje, aos vinte e dois tive que sair de soco em uma bola alta que, se passasse, era gol certo. Trinta e um, uma falta na entrada da minha área me fez voar até o ângulo esquerdo para catar a gorduchinha. O segundo tempo foi ainda pior do que o primeiro. Tive que fazer milagres para manter o zero a zero.

Fomos para a prorrogação. Ficou determinado que seria através de morte súbita: Marcou um gol, vence a partida. Levou, perdeu. Dois tempos de quinze minutos, meia hora de sofrimento para mim. Treze (que número, não?) minutos do segundo tempo, pouco menos de dois minutos para o término do jogo, Fernando, o ponta esquerda adversário, roubou uma bola no meio de campo e veio driblando. Passou pelo Fábio, pelo Neto, pelo Leonardo, enfiou no meio das pernas do Zezinho e, de fora da área, chutou fraco em minha direção. A bola parecia vir em câmera lenta, rasteira vinha fácil na direção de meus pés. Bastava um agachamento e uma defesa fácil seria feita. Mas a desgraçada passou entre meus braços, escorregou pelo meio peito, cruzou as minhas pernas e foi morrer no fundo das redes. Logo após o barulho da bola batendo na rede veio uma série de palavras dirigidas a mim que me recuso a repetir aqui graças ao respeito que tenho pelos meus leitores. É gente...vida de goleiro não é fácil: Erra uma vez e já era! Já era sua partida, já era a sua tranqüilidade! O mínimo que você precisará é de um bocado de paciência!

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