DIA DO ERRO
Lena Chagas

Sabe aqueles dias? 

De manhã, muito cedo, telefone toca e alguém - já acordado há muito tempo - bombardeia o meu ouvido com um assunto qualquer, sem me dar chance de resposta ou de protesto. Nem respira. Descarrega e desliga. Acordo, mas meu bom humor, não!

Um café, quem sabe?

Concentração no trabalho e o sentido das frases não aparece. Escrevo e apago, escrevo e apago, e os erros se repetem. Insisto. O teclado deve estar com problema. Papel, lapiseira e idéias. Borracha! Muitos riscos, muito papel amassado, lixeira cheia e minha paciência minguando.

Meio-dia chegando. Pausa para fazer o almoço. Ainda posso me recuperar. Sempre há um "- Hummm... que delícia!", e isso anima qualquer um! 

Mas hoje, não. Arroz queimado, sal a mais ou sal a menos, e lá se foi minha fama na cozinha. Os olhares de acusação revelam isso. 

Abrindo um parêntese e guardadas as proporções, um único erro que cometemos pesa muito mais que vários acertos! Ele pode esmagar a reputação de qualquer pessoa ou acabar com a vida dela ou de outra. Só depende da sua área de atuação (ou de ataque?). Isso não é nenhuma novidade, pois todos os dias nós vemos um erro derrubando alguém. E a recuperação de um tombo pode levar tempo ou não chegar nunca! Parêntese fechado. 

E o dia continua. Volto às letras, em busca de alento. Nada de novo e tudo, de novo. Os erros se sucedem, com ou sem a minha colaboração. Um caminhão bateu em um poste, aqui em frente, e a energia não tem hora para voltar. O síndico acaba de informar que vamos ficar sem água, até amanhã, porque erraram na proporção de cloro, no reservatório. Chega uma ligação da loja de brinquedos, pedindo que eu volte lá: não assinei o cheque! Ao descer as escadas, torço o tornozelo. Pego um táxi, o motorista erra o caminho. Chego na loja, fecharam mais cedo. Volto, já é noite. Na escuridão, não encontro a fechadura! 

Dia infindável!

Emparelhamento de planetas? Mudança de lua? Lei de Murphy? Vingança da matéria? Bruxaria? Incompetência? Ou será "que só o erro tem vez", como dizia Leminski? 

Talvez seja o Dia do Erro! Não existe? Acabei de inventar!

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