É ÔNUS DA PROVA, SEU LINDOLFO
Lula Moura

É interessante como o tempo vai passando e as regras do jogo vão sendo alteradas, ao bel-prazer dos donos do mundo. Opiniões vão sendo incutidas sorrateiramente no inconsciente coletivo, e defendidas à unhas e dentes pelos chamados "capivaras da ideologia". Temos que tomar um cuidado danado para não sermos contaminados. Bom, pelo menos, podemos rir um pouco ao observarmos o filme da vida. Este filme nos permite visualizar uma cena que, se não aconteceu, poderia ter acontecido... 

Terra de Vera Cruz, um dia desses, não faz muito.

Rogério completou sessenta anos de idade, e estava cuidando de providenciar toda a documentação necessária para efetivar sua aposentadoria junto aos órgãos competentes da Previdência. Lendo o "menos mentiroso" (forma carinhosa como tratava seu jornal de costume), ficou sabendo que acabara de ser formalizada a lei que regula a inversão do ônus da prova, fato que coloca a responsabilidade da comprovação do tempo de serviço do trabalhador ao encargo da Previdência Social. Achou interessante, mas tratou de continuar a organização da documentação que juntara todos esses anos. Vai que a tal de lei não "pegou", ainda. Lembrando que, aqui no primeiro imundo, tem dessas coisas. Êpa! Desculpe, errei. Não é imundo, é mundo. Ah, e não é primeiro. Pois é, quem erra uma vez... (consegui encaixar o título do tema da quinzena!!!).

Passeando pela praça do bairro onde mora, Rogério encontrou um amigo, Seu Lindolfo, que já beirava os setenta e tantos anos e estava aposentado a outros tantos. Após saber da aposentadoria pleiteada por Rogério, Seu Lindolfo resolveu então lembrar, enquanto virava a página do Jornal dos Esportes (torcendo pro Romário ser convocado), o quanto penou para obter sua aposentadoria junto à Previdência...

Seu Lindolfo: - Tive que vasculhar os baús do porão da minha velha casa e catar toda a documentação que consegui guardar ao longo dos anos de trabalho. Mesmo assim, demorou vários meses, pois perdi os documentos referentes a duas empresas, por onde passei, e tive que procurá-las para recompor. Isto me deu uma chateação danada, Rogério.

Rogério: - A coisa agora mudou, Seu Lindolfo. Li uma notícia no jornal, dando conta da implantação de uma lei que cria um tal de "Projeto de Inversão do Ônus da Prova".

Seu Lindolfo: - Mas que diacho é isto, Rogério? (indagou sem entender direito a expressão)

Rogério: - Eu explico. É o seguinte: Agora o cidadão não precisa mais levar aquele catatau de documentos para dar entrada na aposentadoria. Basta levar a identidade que lá eles terão tudo. Passa a ser obrigação deles.

Seu Lindolfo: - Puxa! Assim é mole. Por que só agora eles inventaram esse tal de ônus? Na "vez do meu" não teve nada disto. Parece piada.

Rogério: - Como assim, na vez do meu? Acho que o senhor não está entendendo direito, Seu Lindolfo.

Seu Lindolfo: - Estou sim. É como diz o ditado: Pimenta no ônus dos outros é refresco!

Rogério riu e comentou: - É "ônus da prova", Seu Lindolfo. Ônus!...

Seu Lindolfo: - Ah, desculpe! Essa minha cabeça, às vezes, me mata de vergonha. Mas, me diz uma coisa... Isto melhora o nosso rendimento, ou seja, o que a gente recebe no fim do mês, Rogério?

Rogério: - Claro que não né, Seu Lindolfo... 

Seu Lindolfo: - Entendi então Rogério: Eles passaram a entrar com o tal de ônus, e nós continuamos a entrar com o outro.

Risos...

Rogério: - É Seu Lindolfo, sua cabeça pode fazer algumas confusões de palavras, mas seu senso de humor continua em forma. É como dizem lá no escritório: Ganha-se pouco, mas ganha-se pouco...

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