ERRAR É HUMANO.
O MÊDO, MAIS AINDA...
Roberto Chaves

O olhar, meio parado, travado mesmo, parece dizer: "Que fazer?" Pensa, repensa, mede catetos e hipotenusas, eleva tudo à máxima potência do absurdo, e... mesmo assim não toma uma decisão.
Enquanto isso, o pensamento não pára. Trabalha, trabalha, trabalha. E perturba. Quando a decisão parece tomada, a paralisia prova que não.
E se não der certo? E se errar a mão, a frase, o tom? E se houver recusa? O trauma do não, da inconveniência, do pouco caso.
Pior do que o mêdo do goleiro diante do penalti. Muito pior. Pior do que o próprio penalti perdido. Mas, até no penalti pode haver uma segunda chance. Um rebote que seja. 
Continua pensando, continua sofrendo, continua hesitando. De repente, a frase chega: "oi, tudo bem?".
Pára de pensar e responde: "tudo!" 
"Você pensa e sofre demais..."
O arrepio fica visível na pele branca dos braços. Na vermelhidão do rosto, nos olhos que crescem, no sorriso de monalisa...
"É o mêdo..." 
"De quê?"
"De ser mal recebido, mal interpretado, de ser recusado..."
"O mêdo trava."
"Verdade..."
"O mêdo de errar impede o conhecimento."
"Gosta de filosofar?"
"Às vezes..."
"Gosta de cinema?"
"Muito, mas, antes, vamos conversar..."
Quando percebeu, bem depois, muito depois, já não pensava tanto. Não media nada. Mentira, por um instante tentou quantificar a alegria e o alívio que sentia.

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