IDADE E ANALFABETISMO
Eraldo da Silva

Numa roda formada por homens em plena Segunda-feira o assunto,não sendo futebol só poderia ser outro: Mulher.

Todos comentavam suas glórias do fim de semana, alguns relatavam até mais de uma conquista no mesmo dia, entre estes conquistadores destacava-se o Ademar. Um senhor que já tinha passado dos cinqüenta anos há muito tempo,talvez ele mesmo não percebesse isto, afinal tingia seus cabelos de negro, e como não era calvo, tinha apenas uma imensa coroinha, o que não é vista no espelho pela própria pessoa, por isto no meio da garotada era o mais empolgado nos relatos. Tinha vindo sozinho para o Japão deixando sua esposa e filhos já grandes no Brasil, com o objetivo de aventurar-se neste mundo de fornicação que é a vida de homem "solteiro".

É claro que nem todas as narrativas eram verdadeiras ou exatas como seus protagonistas diziam, muita verdade era deixada de lado em nome do egocentrismo natural do ser humano. O próprio Ademar sempre me confidenciava o que acontecia de verdade em suas aventuras, não que eu perguntasse, mas a vontade de contar intimidades fazia com que ele se abrisse comigo.

Resignava-me a ouvir aquelas histórias´(ou serão estórias?), calado mas sempre duvidando do narrador. Tudo parecia muito fácil e isto até mexia com minha estima. Só comigo é diferente? Pensava enquanto eram relatadas verdadeiras aulas de sedução.

Há muito tempo que o Ademar vinha falando que iria arrumar uma garota bem jovem, e claro que ninguém acreditava nele, brincavam que na idade dele não agüentaria o tranco e o grande fantasma que ronda os homens idosos o pegaria, afinal todo super-homem tem o seu dia de criptonita.

E não é que o velhinho conseguiu mesmo. Quando isto aconteceu ele fez questão de relatar todos os detalhes, ou quase todos, teve até uma testemunha que o viu levando a garota no carro e confirmou a veracidade do fato. Seu relato foi muito empolgado, disse que a garota era linda, o que não deve ser mentira, afinal com apenas dezoito anos, ficava mais bonita a cada ano que a idade deles se diferenciavam. A única coisa que ele não gostou nela foram os pés, não combinavam com a delicadeza de uma moça jovem. Mas mesmo assim teve a melhor performance sexual de sua vida, só parou porque a sua parceira não agüentava mais.

Depois que ficamos a sós, ele me contou os detalhes que ocultou diante da roda.

Quase que o seu dia tinha chegado, mesmo com toda experiência nada conseguia fazê-lo se animar, e a garota até ajudou muito, mas com delicadeza o deixou sozinho na cama enquanto foi descansar na banheira já se preparando para ir embora.

No desespero ele mexeu na bolsa dela, talvez encontrasse uma pílula mágica, aquelas azuis ou qualquer outra coisa. A única coisa que encontrou além de um batom foi uma pomada, tentou. Foi a salvação, e claro que ele roubou a mesma, guardando no bolso da calça.

Ele me mostrou a santa pomada e pediu para ler a bula pois queria comprar mais, como também não sei ler em japonês, afinal estes ideogramas usados no Japão são nossos maiores fantasmas no aprendizado do idioma, recorremos a um amigo natural da terra que leu com muito prazer:

"- Endurece, seca e depois cai. Pomada para calos!"

Parece que o Ademar tinha razão quando falou dos pés da garota.

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