AMIGOS...
Felipe de Paula Souza

Acho que todo mundo tem, ou já teve, um daqueles amigos inconvenientes. Aquela pessoa que é naturalmente chata, não é nada forçado. E o pior dessas pessoas é o seguinte: você é sempre o melhor amigo delas. Os amigos inconvenientes sempre te adoram, não importa o que você faça. Para ele você é o cara mais gente fina que ele conhece, é o grande "chapa", é o amigão, é o "parceiro", é o ombro amigo, resumindo, é um "grude" infernal!

Um dia desses eu estava em casa, num sábado à noite, assistindo minha televisão, planejando o que eu não iria fazer no domingo. A semana tinha sido uma loucura, passei o sábado fora de casa, no domingo o que eu queria era ficar em casa sem fazer nada o dia todo. Lá pelas dez da noite meu pensamento foi interrompido pelo telefone. Telefone tocando numa hora dessas? Quem será? Pensei comigo. Para minha desagradável surpresa era o Zé*, o meu amigo chato.

Permita-me fazer um pequeno parêntese na história: Enquanto eu digitava estas linhas recebi um telefonema de um outro amigo meu, o João*. Ligou-me para dizer que precisava tirar um documento.

- E aí, Felipe, tudo bem?

- Tudo.

- Pô, rapaz! Estou precisando tirar segunda via de um documento.

- É mesmo?

- É! Toda hora o sistema sai do ar, não consigo tirar nunca.

- Puxa!Que problema, não é? 

- É. Bom...é só isso, preciso desligar, tchau!

- Tchau!

Estão vendo como é? Este é o típico inconveniente a qual me referia. Mas, fazer o que? O cara gosta da gente, não é? Terminado o parêntese voltarei agora para a história do Zé*, o que me ligou no sábado à noite.

Como eu dizia, o Zé* telefonou para me convidar para um bate-papo no domingo à tarde. Falei comigo mesmo: Ah, meu Deus! Não é possível... esse cara, não! Porém, como manda a boa educação tentei negar com jeito:

- Puxa, Zé*! Infelizmente eu não estou me sentindo muito bem... não estou querendo sair de casa.

A resposta foi imediata:

- É mesmo? Não tem problema, eu vou até aí para a gente conversar.

Imagine minha cara... tentei novamente:

- Agradeço, mas acho melhor não. Talvez eu esteja com catapora.

Mandei essa confiante que iria me livrar do fardo, mas veio a rebatida:

- Não faz mal, já tive catapora, sou imune.

- Também pode ser caxumba...

- Quando era criança tive caxumba.

Mas será possível? Esse cara já teve de tudo...além de chato é doente. Como é que eu vou sair dessa? Pensei comigo. Lembrei de uma amiga comum que temos. Ninguém a suporta, inclusive o Zé*, então mandei essa:

- A Maria* vai estar aqui, vem trazer alguns remédios.

- Que maravilha! Preciso entregar umas fotos para ela. A Maria* está me pedindo o álbum faz tempo.

Minha mente apenas repetia: Não,não,não! Esse cara tem resposta para tudo! Eu deveria imaginar, a Maria* é uma chata de primeiro time é claro que o Zé* gostaria de encontrar-se com ela: São sócios do mesmo clube.

Resolvi ser mais direto:

- Zé*, não me leve a mal mas, eu aluguei um filme e não vai dar para conversarmos.

- Que beleza, qual é o filme?

Não é possível! Até isso ele quer saber, e o pior é que eu não tinha alugado nenhum filme. Fiquei sem saber que resposta eu daria. Para resumir a história, no domingo à tarde tive que explicar ao Zé* como eu havia melhorado tão rápido, explicar também porque a Maria* não apareceu. E passei a tarde junto com o Zé* assistindo Beleza Americana, o primeiro filme que achei em minha rápida corrida à locadora.

* Zé, João e Maria são pseudônimos utilizados nesta crônica para garantir a segurança do autor e para não desagradar a A.B.d.A.C. (Associação Brasileira dos Amigos Chatos)

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