AFRODISÍACOS
Lena Chagas

Há séculos acredita-se no poder mágico dos afrodisíacos. Uns acreditam mais, outros, menos. Há os que não só acreditam, mas também contam as maravilhas conseguidas com o seu uso. Outros, nem tanto! E há aqueles que só acreditam vendo, mas nunca experimentaram. E ainda os que de tudo experimentam, em busca de um desempenho sexual mais excitante. 

Até onde sei, não existem confirmações científicas quanto aos efeitos dos alimentos ou produtos ditos afrodisíacos. Os psicólogos dizem que basta acreditar para um afrodisíaco funcionar. Para alguns poetas e escritores, o único afrodisíaco é o amor. Millôr Fernandes diz que “O melhor afrodisíaco é a carência prolongada.” 

Há opiniões e histórias para todos os gostos.

Lembrei do que se passou com uma amiga, há algum tempo. Separada, depois de um casamento de quinze anos, ela dizia ter encontrado sua alma gêmea. ‘Em tudo nós combinamos. Em algumas coisas nem precisamos falar; parece telepatia.‘ Parecia frase feita, tantas vezes ela a repetia. 

O convite não foi surpresa. Um jantar japonês para apresentá-lo e comunicar o casamento, bem próximo. ‘Casamento, não; vamos viver juntos, é muito melhor.‘ Disse ela, antes que ele puxasse o fôlego para comentar alguma coisa. E foi quase todo o jantar, assim. Tímido, pensei. A certa altura, alguém perguntou: 'E a lua-de-mel, onde vai ser?’ Ela, de novo: ‘Eu escolhi...’ E um silêncio, muito grande para ser uma reticência, calou a noiva afoita. 

O até então noivo tímido, parecia ressuscitar das cinzas. De pé, olhando firme nos olhos dela e segurando fortemente pelo seu braço, bradava em alto e bom som, para que todos ouvissem: ‘Não vai haver lua-de-mel, muito menos casamento ou coisa parecida! Cansei de fazer tuas vontades e agüentar calado! Não gosto de jazz e nunca gostei de frutos do mar! Detesto “9 semanas e meia de amor” e nunca suportei o cheiro de incenso! Óleo no corpo me dá náuseas e massagem me irrita! Pronto! Falei! Obrigado a todos e até um dia!’ E saiu do restaurante, quase correndo.

O silêncio voltou à mesa, enquanto todos se olhavam, atônitos. Ficamos mais incrédulos, ainda, quando ela levantou-se e tentou explicar: ‘Tenho certeza que foi o sushi... ele fica doido quando come sushi! Numa noite de amor, ele chegou a me bater... e o cardápio era sushi!’ 

Sempre acreditei que antes de qualquer estimulante erótico, tem de existir paixão, amor ou desejo entre os parceiros. Se existir, qualquer coisa que agrade aos dois, servirá de estímulo para que o erotismo aumente. 

Seja um perfume ou um vinho; salmão ou uvas frescas; uma geléia gostosa ou um café; banho de espuma ou jantar à luz de velas; o suor ou uma lingerie. Escolham. O que importa é que a pessoa que nos importa também se importe. 

Mas o melhor, ainda, é quando a paixão nos faz esquecer de tudo isso. E é quando somos reciprocamente afrodisíacos. Não basta? 

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