faÇa de dois gumes
Ana Luísa Peluso

desabilita a canção
da vida e seu fios.
de seus dedos
já saem qualquer líquido
por alguma dor.
sem saber pra qual lado
correr
senta-se.
e aguarda o fio
do meio
fim.

inicia pensamentos
abomináveis:
mil formas de escapar
sem sentir dor.
anuncia ao mundo
a deixa e o refugo.
atormenta a pele
quando a estica 
mas já não bebe
de cálice algum
qualquer pavor.

afia tuas garras
todo dia
atiça tua ira
ao sobrenome
e brinca que se corta
com a faca
mas engata a espera
doentia.

rasga enfim ao mesmo tempo
ambos os lados
e cria escape em escarlate
pra algum outro.
e tudo o que possa ser
passa à morte
- quente suave e quieto.
como um berço d’água
um sonho em vapor.

se nada der certo
vira o avesso
(e ainda retém a imagem
entre os dedos)
abre caminho entre célula
e miragem
pensa que é apenas
tudo engano
e recorta tua existência
em segredo.

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