BUSCA DA LIBERDADE

Juraci de Oliveira Chaves

Já ouvi muitas histórias de besouro contra a vidraça, da mosca contra o vidro, do morcego contra a janela, mas essa eu nunca vi. Presencio essa luta desigual, nesse momento:

É um duelo interminável. Uma barreira intransponível. Ela sempre cai. Adquire forças, levanta novamente, inicia novo combate, na busca da liberdade. Quer o ar fresco, o perfume das flores, a asa dos ventos. Quer voar no azul do céu, na claridade do sol, pousar no balanço das folhas e no banco do jardim. Dar o beijo dos enamorados, o olhar dos apaixonados e o amor buscar. Amor verdadeiro, a dois, a muitos. Amor desenfreado, desejado, livre e selvagem. De murmúrios e gemidos prazerosos. Gemidos de gozo, de tesão. De ávidos beijos de emoção. Nova luta, voa, bate na muralha transparente... Um colorido cai dos muitos coloridos de sua asa. Tromba novamente, a vidraça sempre está no caminho. Quebra a perna bailarina, sente a dor, ensaia um novo vôo, agora com mais dificuldade. Precisa sair sem demora. Obstáculos enganadores. Descansa um pouco após nova queda. Parece cochilar. 

Silêncio.

Minutos depois, acorda com novos ânimos. Talvez, com esse descanso, perceba a fresta aberta oferecendo passagem. Nada. Está longe, acima do seu alcance. Já não atinge o alto o seu vôo, depois de tantos acidentes, tantas quedas. Mas...

Não desiste. Recomeça a luta pela liberdade. Renova as táticas. Percebe suas irmãs do lado oposto a convidá-la ao passeio, ao cheiro, ao verde, à areia molhada.

Tenta, inventa, não agüenta. Debalde cai ao chão, imóvel. O brilho de suas asas começa a ficar opaco. Movimento nenhum. Asas se fecham para o mundo de dificuldades, de desilusões...

Não me condene leitor, por deixar a vida debater em vão. A chave da janela se escondeu. Não era o dia da borboleta.

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