ANTROPÔNIMO
Larissa Schons

Não há palavra inventada mais polêmica do que a dos nomes próprios. Eu conheço vários. O meu bisavô, por exemplo, chamava-se Virgulino de Araújo. Dizem a lenda que meu trisavô sofria de distúrbios multidimensionais e que devido ao problema costumava a falar pausadamente. Certo dia conheceu Cecília, minha trisavó, professora de português. Paixão à primeira fala. Decidiram-se, pois que o primeiro filho do casal chamar-se-ia Virgulino. Méritos ao significado das vírgulas do discurso do meu tri-i-i-s-a-vô. O que poucos sabem é que as pausas constantes viriam a se chamar mais tarde de gaguez ou gagueira. Acreditem se quiser, o meu bisa, Virgulino, foi o primeiro filho de um gago do sul do Brasil. 

Histórias como essa há muitas por aí. Fica a mercê da nossa curiosidade nomes como, Hypotenusa Pereira, Deusarina de Mello, Asteróide Silvério, entre outros. Porém os antropônimos que mais caem na graça popular são os de pessoas famosas. Por homenagem de nossos pais ou promessas, nunca se sabe, surgem nomes como, John Lennon da Silva, Marilin Soares, Maicon Jakisson de Oliveira, Airton Sena de Sousa, Abraao Lincoln Simas. Das personalidades mais recentes a que vem atraindo grande agitação é a do terrorista Osama Bin Laden. Segundo consta nas revistas de fofoca uma família de Minas Gerais pretende colocar o nome do terrorista no terceiro filho do casal. Diz o genitor que não abre mão do Bin Laden por achar bonito e sonoro. Basta saber se depois de crescido o filho vai achar tão bonito e sonoro assim. 

É certo que muitos portadores se sentem incomodados com os nomes dados pelos seus pais. Justificativas para mudar são muitas. Incompatibilidade em relação à personalidade, religião, estética. Porém há sempre aqueles que fogem as regras e adoram a dita anomalia, principalmente quando o nome e o sobrenome coincidem com o de gente famosa. Antonio Fagundes, Regina Duarte, Silvio Santos, Marina Lima, Carlos Gomes tem aos montes. Maravilha, não? Eu mesmo já estudei com uma estrela do cinema: Sonia Braga. Só que esta em questão era loira. Sonia não se incomodava com isso, pelo contrário, tentava ganhar proveito do mesmo. Já presenciei cenas em que ao ser retrucada por alguém dizia: 

- Sabe com quem você está falando? 

Claro que a pessoa falava que não fazia a menor idéia. Ela com ar de autoridade não se incomodava, mostrava a carteira e soletrava letra por letra do seu nome.

- Presta atenção, eu sou a S-o-n-i-a-B-r-a-g-a, entendeu? 

- Ah! Dona Sonia Braga? Aquela? Famosa? 

- Sim, sou eu mesma! Disfarçada, não tá vendo?

Dizia isso na maior cara-dura e ganhava tratamento vip em quase todos os lugares que freqüentava. 

Fofocas à parte, no mundo dos antropônimos um dos casos mais curiosos são os das derivações herdadas pelos membros da família, tais como: Eli, Eline, Eliane, Elianor. Há casos como os da família Ana e seus Anair, Anaira e Anairson. Entre esses, conheço o do zelador do meu prédio, Rosemar. Ele tem três irmãos: o Rosecler, o Rosenildo e o Rosevaldo. Rosemar diz que não entende e que seus pais nunca explicaram o motivo de tantas "Rose" no nome. Mas de forma alguma acha ruim, gosta muito, principalmente o seu por achar o mais poético dos quatro. Além disso, Rosemar tem a vantagem de adorar o mar e morar perto deste. Sua única frustração é a de não ter encontrado até hoje a Rose-carne-e-paixão de sua vida. Sonha em ter junto dela vários filhos, entre eles duas meninas, de preferência gêmeas univitelinas. Confessa que já tem até os nomes das futuras belezinhas, Rosemeire e Rosemary. Nem pensa em outra possibilidade. Pra Rosemar, nome é coisa séria, é tradição, é paixão, é futebol. E com ele faz jus da grande máxima: "Em time que está ganhando não se mexe". 

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