AMOR INVENTADO
Rosi Luna

O nosso amor a gente inventa pra se distrair
E quando acaba a gente pensa
Que ele nunca existiu
(Cazuza)

Primeiro fingiu que não era com ele. Assim, tipo, ele era ele, mas parecia ser outro. Na realidade, não era bem assim, é que ela era muito confusa e achou que ele fosse aquele outro. Era complicado entender quem era ele, afinal? 

Mas aquele outro também não existia. Ela inventou na cabeça dela que "ele" seria um grande amor. E, na verdade, aquele homem não existia. Era um homem inventado como um soldado para um combate amoroso. 

E cada um que aparecia ela achava que era "ele" disfarçado. E de fato aquele outro nunca tentou uma aproximação. Ele sempre esteve em terras distantes. Esteve próximo apenas em pensamento. Nenhuma palavra ou ação. Aquele "ele" que ela inventou pra amar não sentia nenhuma emoção por ela. E por sua vez, ela era só devoção com "ele", até mudar de idéia.

Então aquele primeiro "ele" foi ficando longe e deu lugar a pessoas mais reais. Aquele segundo "ele" fazia de tudo pra se mostrar interessado e um dia foi encontrar com ela e prendeu a chave dentro do carro com a partida ligada. Parece cena de filme, mas ela foi chamar o chaveiro pra prestar o socorro e no fim deu quase tudo certo. 

Sabe aquele outro, o que dizia que não era ele e era outro? Ele roubou um beijo dela em frente a um grande shopping e não estava nem aí com ninguém. Ele queria ela louca e tímida de qualquer jeito. E partiu pra atitude. 

Então esse cara aí deu mil voltas pra achar um motel. Quando chegaram, estavam tão esbaforidos que dormiram como anjos. Quando acordaram, fizeram um sexo violento. Ele não sabia que ela teria reações tão fortes. Tremia, soluçava e babava. 

Ele começou a assustar. Ela esqueceu de dizer que era epiléptica. E ele achava que ela era apenas teatral. Ela quase morreu porque ele não lhe dava o comprimido para parar os tremores e ele também quase morreu de gozar com tanto treme-treme.

Ele nunca existiu, aquele outro também não. Ela nunca foi epilética na vida. Talvez escapasse algum soluço no fim de uma noite de amor. O sexo poderia até acontecer debaixo de um banho de banheira. Parece que ele engoliu sabão. Até hoje beija fazendo borbulhas como uma máquina de lavar. Ela se encantou com os beijos e com os carinhos. 

Mesmo ele não sendo ele. Ela chegou a conclusão que ela também não era ela. Eles se amaram, apesar de ser uma ficção, um amor inventado. Ninguém sabia o que existia de realidade ou de mentira. Pois ela só tinha palavra inventada.

fale com a autora

Para voltar ao índice, utilize o botão "back" do seu browser.