ALMA LEVADA
Lula Moura

Não que se deva endeusar um nome ou pessoa, mas há que se reconhecer e preservar a memória daqueles que tenham alguma história, seja em que latitude/longitude do globo for. Os que vêm depois, têm o direito de conhecer os exemplos daqueles que tentaram algo, que buscaram. A possibilidade de saber o que essas pessoas aprenderam com seus possíveis fracassos e, principalmente, o que conseguiram com seus sucessos. Bebendo na fonte desta experiência, pra não repetir erros ou, pra não precisar inventar a roda novamente. 

Um amigo de trabalho, que tinha se aposentado há algum tempo, acaba de ter sua alma levada daqui. Partiu. E não vou falar o palavrão, mas dá vontade. Tanto tempo de luta e dedicação numa empresa que, simplesmente, ignora o momento de sua partida. Nenhuma nota, nenhuma linha, nada... Fiquei indignado e duplamente triste.

Lembro de uma frase sua, sempre que mudava a diretoria, ou uma diretriz, em que ele procurava motivar seus liderados: - "Agora vai!"... dizia para um corpo funcional descrente. No fundo ele também desconfiava, mas o carinho pela empresa e, sobretudo, a vontade e a força (que tinha de sobra), o faziam perseverar.

Cada um de nós tem seu talento, sua aptidão. A dele era essa: empreendedor. Após gerenciar equipes nesta empresa, aposentou-se e, quando pensávamos que iria se acomodar (descanso merecido), resolveu incrementar outros projetos, outras metas. Estudioso e conhecedor de terras, plantios e terrenos, passou a introduzir o uso de uma nova técnica no ramo: "Hidroponia". Da informática a cultura de vegetais. Alguns estranharam. Mas sua vocação era "fazer". Idealizar, planejar e "tocar o barco". Que inveja...

Não, eu não estou falando de nenhuma sumidade ou coisa do vale. Falo apenas de um amigo de trabalho que aprendi a admirar. Cuja injustiça de uns poucos me trouxe a emoção do desleixo percebido, e me fez escrever o texto abaixo numa tentativa, minha, de ver a alma lavada após ver a dele, meio esquecida, levada daqui...

***

Não importa se eles não lembram.
E não lembre que eles não se importaram.
No coração de tantos de nós, 
ficará um nó de tua lembrança.
E um fio de esperança
reconhecerá tua luta.

Não!
Teu luto não passará em vão.
Parabéns pelo teu trabalho,
aqui na Empresa.
Parabéns pelo pioneirismo
no uso da hidroponia,
onde, 
depois que se aposentou
(parece que foi outro dia),
plantou novos alfaces.

Sim!
Pode dar a outra face,
pois aí no outro plano,
outros planos 
você colocará em prática,
como sempre fez.
Felizmente,
onde você está agora, 
esquecer não é de praxe...

Vou pedir a Deus
pra te cuidar.
Obrigado por muito.
E não vou dizer adeus,
pois não é o caso.
No máximo:
- Até breve, Newton Barbosa!

***

Na pretensa poesia, marco registro na coordenada do tempo/espaço, deixando meu carinho, meu respeito e meu silêncio...

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