SÃO, SANTA, SANTOS
Julianna Granjeia Silva

Foi subindo a serra que ela se perdeu, 
Que eu me perdi, que todos perderam. 
Foi nas curvas da estrada, que a inocência ficou prá trás 
Ná Lurda subiu também, mas subiu longe. 
Ná Lurda subiu prá nunca mais descer. 
E enquanto subia, cantava e dizia: 
- Não bata na menina!!! 
Mas a menina apanhava 
Dona Santa a consolava, colocava no colo e a ninava 
Ninava a menina e mimava 
Acariciava seus cabelos e a menina acalmava 
Mas a menina continuava apanhando 
E Dona Lourdes, sempre a tranqüilizando 
Mas a menina apanhava muito, 
Apanhava da vida, apanhava de todos 
Levava surra até dela mesmo 
Ná Lurda subia e ninguém percebia, nem a menina 
Um dia, subindo a serra de Santos, todos os santos desceram, 
Desceram para ver Ná Lurda subir iluminada 
E mais uma surra a menina levou da vida 
Ficou sem sua santa protetora 
Sem colo, sem carinho 
A menina chorou 
Mas viu Ná Lurda sorrir, 
Porque todo anjo sofre fora do seu lar 
E Ná Santa foi descansar, foi em paz 
E a menina? Ah a menina continua a descer 
E continua apanhando da vida 
Mas agora Ná Lurda foi embora, 
E ninguém cuida da mocinha, 
A mocinha de Ná Lurda, 
Que sobe e desce a serra desorientada 
Que apanha e se descabela, atormentada 
Porque Ná Lurda não guia mais os passos da menina 
E a menina carente tornou-se uma mocinha doente 
A moça quer subir encontrar seu anjo da guarda 
Mas seus pés estão acorrentados, ela não se move 
E a menina-moça sonha, 
Sonha com o dia que irá encontrar sua vó. 
A mulher continua a apanhar e não suporta mais 
Ná Lurda devia estar observando a mulher 
Mas não estava aqui para impedi-la de subir, 
Subir a serra, ouvir um disparo e ir ao encontro, 
Ao encontro dela mesmo, dos sonhos perdidos nas curvas da estrada, 
Do colo, do mimo, da proteção das surras, 
A mulher foi ao encontro de Ná Lurda 
Foi ao encontro da sua paz. 

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