CIÚME
Adriana Vieira Bastos

Onde ela tinha se enfiado? Perguntava-se nervoso e desconfiado. Como não dissera que pretendia sair? Estava a se consumir. 

Ao vê-la entrar no apartamento, pensou estar pondo fim ao seu tormento. Bem, assim pensou, até ver o sorrisinho com que ela chegou. O que teria acontecido?, perguntou-lhe ensandecido.

Assustada, olhou para ele e disse ter encontrado com algumas amigas e resolveram colocar os assuntos em dia. Que mal havia? Pediu-lhe, também, que não recomeçasse com o maldito interrogatório, pois a fazia se sentir no purgatório. 

Nervoso, argumentou que ela não lhe respondia as coisas direito, deixando-o tremendamente insatisfeito. Disse, ainda, ter ciúmes porque a amava, senão, nem ligava. 

Quando estavam bem, ela tentava mostrar-lhe que não fazia nada demais e que, agüentar seus questionamentos irados, não estava se sentindo mais capaz. O seu azedume não podia ser provocado só pelo seu ciúme. Será que ele não andava por aí aprontando e, no fundo, tinha medo que ela estivesse o seu comportamento imitando? Seu ciúme não era normal, parecia mais um distúrbio emocional. Ele que fosse se tratar, se quisesse com ela continuar. 

Nestes momentos, um tanto quanto desconcertado, dizia-lhe não conseguir conter o seu jeito desconfiado. Precisava contar com a sua paciência para vencer, dentro de si, esse clima de turbulência. E, para o assunto desviar, a enchia de dengos até ela se derreter e não querer mais falar. 

Mas, o tempo passou, ele não se modificou e o ciúme aumentou. Telefonava de hora em hora, para ter certeza se ela não estava fora. Não se sentia controlador, mas, imaginar que ela pudesse não estar, causava-lhe o maior pavor. 

Ela tentava o seu ciúme driblar. Dizia que ia na casa da avó, apenas para conversar com a amiga. Até que um dia deu zebra e virou a maior intriga. A avó não soube o que responder e foi o que bastou para ele enlouquecer. 

Foi a maior baixaria e quase acabou em pancadaria. Desconsolada, viu que isto não poderia ser considerado amor. Sem perceber, deixara ele transformar sua vida num filme de horror: não tinha mais o direito de ir e vir; amigos, então, nem pensar, pois eles poderiam, do caminho do bem, lhe tirar. 

"- Basta!", cansada, falou. E ele, desorientado, fez de conta que não a escutou. Chorou, esperneou e chegou até a ameaçar: se não ficasse com ele, com outro também não iria ficar. 

Decidida, ela não se intimidou e o abandonou. 

No começo ele achou que fosse pirar, mas, com o tempo, resolveu estudar para no concurso público passar. Conseguiu um emprego que tinha muito a ver com o seu perfil e, pela primeira vez, na vida, feliz se sentiu. Hoje, cada vez mais pirado, transformou-se num dos melhores investigadores de Polícia do Estado.

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