SERÁ?
Cléo Siqueira

"Ah, essa não, este não é o momento! Pára! Pára! Que titica de pensamento este meu! Como pensar sobre isto nesta hora?! O que importa não é isto! É o que sinto, o que ele provoca em mim, o que faz comigo, como me mexe, me bole, me transtorna! Pára! Pára! Páaara!"

Quase sacudiu a cabeça para espantar o que pensava, mas tinha uma boca morena rodeando-lhe o pescoço, uma respiração úmida amolecendo-lhe a pele, um par de mãos suaves apalpando-lhe os seios que quase gemiam em voz alta por baixo do tecido do vestido caseiro... tinha o seu homem ali, como sempre o quisera! Por que este pensamento então?

"Foi assim também que a tocou? Foi assim também que ficou, trêmulo de tesão? Foi assim? Será? Será que é diferente comigo? Será? Mas... e os seios dela? Como eram os seios dela? Mais duros do que os meus, mais morenos, mais macios, maiores? Como terá sido tocá-los na juventude? Como é tocar os meus, agora, maduros?"

Idiotice pensar nisto, mas como evitar? Queria ter dado o seu corpo tenro para este amor de há tanto... restara-lhe entregar um corpo sem marcas do corpo que fora: uma cintura não mais tão fina, carnes não mais tão rijas, pele não mais tão fresca...

"Com este embevecimento no olhar foi que a conquistou? Com este olho de menino tímido e cheio de fome? E foi assim, criando ardores e queimações que trepidam o peito, que se meteu por entre as coxas dela — que por certo se abriram vorazes como as minhas — e levou-a ao paraíso como me leva sempre quando me possui? Foi assim? Era assim? Pensa nela ainda? Compara-me a ela? Ao que sentias com ela? Não! Não pensarei nisto! Não pensarei nisto nunca mais! O que me importa? Está comigo, me quer, me ama...! Não pensarei nisto! Nunca mais! Nunca... será que foi isto que ele resolveu também: nunca mais lembrar-se dela quando estivesse comigo?"

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