O CIUMENTO É CORNO POR ATENCIPAÇÃO
François Porpetta

“O ciumento é corno por antecipação.”
François Porpetta 1600-1647

Fecho os olhos, querendo tê-los mais abertos,
Aperto as pálpebras febris com força destruidora,
Como se pudesse deter essa avalanche de angústias,
Temores e incertas certezas possíveis.

Arde em meu peito uma dor que corrói,
Consome minha alma de fora para dentro.
Abarca, envolve, desintegra-me.
Transcende seu estado intangível, 
Transforma-se em salgadas gotas de suor que escorrem por meu rosto,
Confunde-se com as lágrimas não derramadas - ainda.

Cerro os punhos, mordo os dentes:
Atravessa o ar a mão incontrolada,
Como uma flecha disparada rumo à chaga,
Em direção ao vazio, ou a ti, ou ... à mesa!
Chocam-se violentamente a carne e o osso com o móvel escuro,
A dor e a dúvida com o silêncio imperante.
Explodem instantâneos os limites de mim,
Qual fogos de vergonhosos artifícios.
Partem-se os ossos,
Quebra-se a seqüência,
Recupera-se a consciência.

Menos mal, sobra ainda a mão esquerda. O suficiente para chamar um táxi e ir direto para o Pronto Socorro mais próximo. 

Chapa, anestesia, redução, engessamento. De volta para casa, toca o celular. É ela.

- Amor, cadê você? Cheguei agora, tô entrando em casa. Não vai acreditar, meu carro não quis pegar e vim de carona com a Cidinha. E você porque não tá aqui? (Pensando:Tá aonde? Com quem? Fazendo o quê?). Seu carro tá aqui na garagem...

Justo a Cidinha, aquela vaca do sexto andar que o Bira anda comendo - bela companhia!-, e podia ter ligado do celular avisando.

- Putz Morena! Quebrei a mão, tô voltando do Pronto Socorro. Chegando aí te conto como foi. Um beijão, tava preocupado com você...

Ela desliga o telefone; os sentidos femininos todos exacerbados indicam sinal de perigo. 

- Canalha! Aí tem!

Se não tiver, vai ter - já dizia Porpetta.

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