ALÍVIO
Julianna Granjeia Silva

Entrei. A porta da minha sala estava aberta, apenas encostada, o que era muito estranho, pois antes de encerrar meu expediente tinha trancado a porta que dava acesso a minha sala. Pelo corredor camiseta, saia, perfume de mulher, risinhos. Meu sangue subiu, fiquei furiosa, a sala era minha, o cheiro era o dele, mas as roupas não eram as minhas e o riso era conhecido. 

Deve ser outra pessoa, ele não seria tão cara de pau a ponto de me trair na minha própria sala. Trair não, por que não temos nenhuma relação séria. Mas outra do nosso local de trabalho, na minha sala, fazendo as mesmas coisas que nós fazemos! É demais! 

Encostei na porta por alguns segundos, o suficiente para constatar o que desconfiava. Eu já tinha percebido um clima entre os dois, morria de ciúmes, mas não podia fazer nada. Entre gemidos e sussurros, imaginava suas posições. Ela era bem mais experiente, todos conheciam sua fama. 

A raiva era incontrolável, não sabia se entrava na sala, na minha sala, ou se ia embora. Minhas mãos suavam frio, tremiam. Já não conseguia raciocinar. E os dois continuavam a se divertir. Ela gemia alto, a mesa chacoalhava, e eu desesperada. 

A idéia de ter um canivete na bolsa, coçava as minhas mãos e trazia um certo conforto a minha alma. Meu espírito inquieto me impediu de ouvir a razão e ir embora daquele lugar. 

Com o canivete escondido na mão, entrei na sala, os dois assustaram. Ela ainda tentou explicar, mas eu a xingava tanto que ela parou de falar. Ele me olhava assustado, mudo. 

Sem dar chance deles se defenderem, golpeei violentamente o lugar que ele estava usando naquele momento. Quanto a ela, cuspi na sua cara. 

Fui embora sossegada, bem mais leve, tinha me livrado daquela angústia que me atormentava. Não teria mais com que me preocupar. 

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