INDIFERENÇA
Juraci

Ele entrou na sala devagarinho, deixando no ar, um perfume suave, gostoso, nova safra. Kika sabia que ele estava atrás dela, o cheiro era inconfundível. Era característico este hábito de ficar observando-a lidar com as teclas do teclado como se tocasse um piano. 

Ouviu sua voz quase num sussurro pedinte:

"Queria ser essas teclas. Seus dedos deslizam nelas como uma brisa. As carícias são constantes..."

Kika ouviu e continuou teclando quase indiferente:

"Será que ele está com ciúmes do computador?" — perguntava a si mesma.

Outras palavras, outros afagos e a indiferença continuava.

Precisava adiantar os trabalhos pendentes. Sempre precisava. Sabia que passava o dia inteiro frente àquele aparelho que se ramificava da biblioteca para o quarto e sala de estar. Quando resolvia liberar a máquina, o celular ocupava o posto. Derramava e-mails acumulados e lhe dava prazer degustá-los em leituras acompanhadas com músicas e risos. 

Percebendo que não estava para peixe, que outro estava roubando o seu espaço, Thiago afastou-se. Demorou... demorou regressar.

Ao retornar, nada diferente, mais uma noite como outras tendo o travesseiro como companhia. Muitas vezes, contemplou sozinho o sol indo embora preguiçoso, noite de bonitas luas e chuvas de intermináveis noites. Impaciente perdeu as estribeiras:

- Kika!? Pare!

Junto com o grito, a repentina ação. Abraçou com fúria o computador e o fez deslizar sobre a janela do apartamento. E... naquela fração de segundo, a cabeça do adolescente que passava embaixo da janela, amorteceu a queda da máquina.

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