LEI
DO SILÊNCIO
Francisco Pascoal Pinto de Magalhães
Menino magricela, Braian subia na hierarquia como quem sobe o Morro: olheiro, avião, gerente de boca... Esperto, ganhava a confiança e o respeito dos cabeças. Um dia chegaria lá.
Aprendia rápido os macetes, tinha as manhas, fazia a coisa direitinho. Do ponto mais alto observava a movimentação da policia e dos bandos rivais e dava as coordenadas. Festa mesmo era quando o carregamento chegava e ele era incumbido com outros moleques de soltar fogos de artifício para avisar a clientela lá do asfalto. O estrondo era música para os seus ouvidos que aos poucos eram apurados para o som mais sofisticados dos AR-15.
Um dia uma reviravolta dos diabos: Degola, pouco tempo no comando do Morro, foi caguetado e encanado em Bangu 1. Já estava jurado e não viveria muito. Zoinho, o braço direito, foi encontrado carbonizado dentro de um Vectra roubado na Baixada. Cleyton, perversidade em pessoa, encarnação do "coisa-ruim", assumiu o comando. Cleyton gostava de meninos. E de farinha. E deu as ordens:
"Braian, Jeison, Douglas e Juninho vão lá embaixo e mandem fechar o comércio. Luto pelo Zoinho e pelo Degola"
"O Degola também morreu?"
"Até o fim da tarde despacham ele"
Braian sacou que havia o dedo nervoso de Cleyton naquilo tudo e comprou bronca. Não que gostasse de Degola e Zoinho, mas porque sabia das taras do pederasta e porque detestava o modo guloso com que ele o secava.
Aquela noite Cleyton tomou posse e deu uma festa. Tiros cortaram os céus do Morro, a farinha rolou solta e ninguém mais lembrou de Degola e Zoinho que viraram estatística.
Doidão Cleyton escolheu a dedo os seus "meninos" e decretou a orgia.
Não iria longe o seu reinado.
Aquela noite Braian deixou sua virgindade e uma granada roubada do Arsenal da Marinha de presente para o Cleyton.
Sem o pino.
Muita gente achou que fosse bujão de gás que estourou mas ninguém disse nada. Nem se arrisca a quebrar a Lei do Silêncio. Silêncio da noite cortada por lâminas de luz e estrondos da artilharia pesada de Braian e seus parceiros, cujos ouvidos se deleitam como se ouvissem um funk de melodia e ritmo.
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