SILÊNCIO
Luisa Jardim

Quando falamos pelo telefone, eu não tive coragem de dizer a ele que não iria encontrá-lo no dia seguinte. Ele estava tão cheio de planos para esse primeiro encontro, que eu precisava de mais um tempo para convencer a mim mesma de que essa era a melhor decisão, então resolvi dizer por e-mail, mais tarde.

Ele sempre verifica os e-mails no fim do expediente, logo antes de sair do escritório e eu tinha certeza de que, assim que lesse minha mensagem, me telefonaria e poderíamos falar sobre o assunto. Claro que, depois de alguma discussão, conseguiria convencê-lo de que ainda não era a hora certa.

Enviei o e-mail às 19h40 e sentei ao lado do telefone, repensando meus argumentos e ensaiando o que dizer, com um livro nas mãos, ouvindo o silêncio do telefone e fingindo ler... depois de algum tempo, percebi que não linha avançado nem uma página e fechei o livro. Liguei a televisão e fiquei ali sem ver, mas o silêncio continuava. 

Duas horas depois, desisti e fui à cozinha, comer alguma coisa. Claro que ele não estava no escritório até aquela hora. Talvez não tivesse aberto o correio, tivesse deixado para o dia seguinte.

Mas ele não telefonou no dia seguinte, nem no outro, nem mandou nenhuma mensagem. Silêncio total. Isso foi há seis meses. Eu também não telefonei e depois de alguns e-mails de bom dia, todos sem resposta, parei de escrever.

Outro dia li uma crônica da Martha Medeiros em que ela diz que o silêncio pode ser terrível ("...Um telefone mudo. Um e-mail que não chega... Silêncios que falam sobre desinteresse, esquecimento, recusas...") e compreendi que meu silêncio ao telefone sobre não ir encontrá-lo foi tão terrível e o feriu tão profundamente quanto aquele com o qual ele revidou.

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