ADORMEÇA
Márcio Benjamin Costa Ribeiro

Ela estava deitada na cama com o cobertor na altura do peito. Apertava-o com tanta força que os nós dos dedos estavam quase brancos. Era muito tarde. Um silêncio total. Só se ouvia o vento balançando a árvore grande do quintal. Depois, nem isso. A falta de ruído a assustava ainda mais. Trazia-lhe insegurança. Como se planejassem algo. Ouviu algo embaixo da cama. Puxou mais o cobertor. Pensou em chamar pela sua mãe. Mas o grito parou na garganta quando lembrou-se da última vez que a chamara. Ela veio correndo, acendeu a luz e não havia nada no quarto. Nem embaixo da cama. Nem na janela. Ela sentiu-se ridícula. Mas hoje era diferente. Havia algo no quarto. Não embaixo da cama. Nem na janela. Mas no quarto. Na verdade existiam muitas coisas. Ela tentou acalmar-se procurando identificar as sombras. A boneca velha. A vitrola. Os livros do colégio. O violão. A roupa pendurada no armador. Enquanto percorria os olhos pelo quarto respirava devagar. Pensou em cantarolar uma música. Mas não, se sentiria ridícula. O vento realmente parara. 

O barulho embaixo da cama recomeçou. Um ruído leve. Quase imperceptível. Se não estivesse tanto silêncio. Procurou descansar de verdade. Esquecer estas bobagens. Não havia ninguém no quarto. Não havia nada embaixo da cama. Como sempre. Ela sorriu e fez uma brincadeira tantas vezes repetida. Fecharia os olhos. Quando os abrisse, haveria apenas seu quarto. Nada mais. Nenhum barulho estranho. Apenas o seu quarto. 

Fechou os olhos sorrindo. Sentados na cama e espalhados pelo quarto estavam todos eles. Esperando pelo momento em que ela abrisse seus olhos. 

fale com o autor

Para voltar ao índice, utilize o botão "back" do seu browser.