EM BUSCA DO PARAÍSO
Alberto Carmo

Já vou avisando, este texto não é recomendável para jovens com menos de 21 anos. Não quero ser tachado de Xuxo por acelerar a sexualidade dos jovens, impedindo-os de aprender o encanto antes do explícito. Portanto, se você tem menos que 21, peça autorização ao seu tutor antes de ler. Ou melhor, seria de bom alvitre que não lesse. 

Agora, se você ler e rachar o bico de rir da minha ingenuidade, então, como autor de mais esta bobagem, eu exijo indenização, porque não deveria ter lido mesmo, queimou o meu filme, talhou minha maionese, roubou a razão de ser deste texto e, pensando nisso, já estou na dúvida se o escrevo ou não. 

O escrito deveria ter alvo certo, como flecha teleguiada. Como um novo sabão em pó, desenvolvido após extensas pesquisas junto às consumidoras, e só então lançado, com apoio de comerciais bem dirigidos, exibidos após o horário nobre, depois que os pais responsáveis já tivessem posto os rebentos, ainda puros de inquietações, em seus devidos berços de solteiro.

Se você parou de ler lá no primeiro parágrafo, embora não tenha chegado até aqui, eu preciso agradecer sua generosidade e bom senso. Admiro tanto os jovens como você, que sabem se safar dos guizos de pessoas que os vêem apenas como mais uma carteira a conquistar, que vivem escancarando acepipes (leia-se armadilhas) diante dos seus olhos ainda sonhadores. Mesmo não sendo eu um desses mercadocratas sem escrúpulos, que se aproveitam de sua ingênua liberdade, mesmo que fique aqui este agradecimento enterrado neste abismo de linhas que você abandonou lá em cima, eu devo fazê-lo, sob risco de ter deixado escapar uma ternura que é, por direito, sua, meu jovem, ou minha jovem. 

Mas você que ousou brincar com minhas decências, e veio escorregando sua prancha de surf até este degrau já bem profundo, aceso pela curiosidade de ler o que um desajeitado coroa-tio haveria de falar sob sexualidade e paraíso, a você preciso deixar uma reprimenda, ainda que tardia, pelo descaso com os segredos. 

Antes de iniciar o que afinal vim aqui fazer - falar de sexualidade e de paraíso - não custa repetir, cabe mais um preâmbulo, agora voltado aos que me dirijo: meus iguais, meus parceiros do tempo, meus irmãos e irmãs, primos e primas, vizinhos e vizinhas dos bipes e gargarejos dessa máquina divina e infernal, que entrou de quina em nossas vidas e, por fim, nos habitou.

Rogo, humildemente, sua paciência. Volto ao assunto a que me propus em novo texto a ele dedicado desde o primeiro espaço, visto que, como sabem melhor que eu, que mais escrevo do que leio, este alongou-se demais, e nossa impertinência, nossa falta de tempo a dedicar com algo útil e prático, é preciso conservar. É hora de descansar.


Continuação...

Bem, o descanso já ocorreu, embora tenha durado mais do que foi preciso - alguns dias que me fizeram esquecer o que escreveria. Mas o que são alguns dias quando se quer escrever sobre algo tão comum e irresistível quanto paraíso e sexualidade, já que todos buscam o paraíso, todos nos interessamos por sexualidade. 

Caso você, que ora aqui lê, esteja pensando em ouvir primeiro o que se vai falar de sexualidade, por favor não pule direto às linhas finais, mesmo porque ainda nem sei o que vou lá escrever. Melhor seguir o texto em ordem - primeiro o paraíso, depois chega-se à sexualidade, assim espero. A não ser que você considere a sexualidade um paraíso - do que não posso discordar completamente. 

Mas nem só de sexo vive-se no paraíso (pelo menos imagino eu) aqui neste vale de lágrimas, se me permite copiar a prece. É que sua aparente pressa de ler antes sobre sexo acabou por perturbar o bom andamento das minhas matutices, e já estou eu de novo perdido, a tentar recompor a ordem das linhas e dos parágrafos - nem sei onde deixei o preâmbulo, se entre a correnteza do tema, se no desfecho. Nem se havia pensado num, ainda que mínimo. 

Pois bem, que seja: sexo. Se assim prefere, ora o farei. Na verdade, não sei se é você quem o quer, ou se quero eu inverter nossa posição e postar-me aí, na sua, à espera do que tem a dizer você do sexo no paraíso, ou do paraíso no sexo. Ou se há algo mais no paraíso que não seja sexo, já que lá andamos todos ao natural - assim postos desde os primórdios em trajes de Adão e Eva nos bosques celestes. 

Espere! Você queria ouvir do sexo real, recheado de gemidos e esfregações entre líquidos e salivas? Mas por que não me avisou três ou quatro parágrafos acima, antes que entrasse neste labirinto desconexo? Pois teria sido interessante e mais atraente haver descrito pensamentos pecaminosos e caminhos bandidos que percorremos na maratona carnal. Mas já é tarde, alonguei-me demasiado, e entornar o copo a esta altura faria perder o fio a meada, sem elo que mudasse a cena das terras paradisíacas em lençóis efervescentes. 

Não, não abandone a leitura agora - que já quase se encerra! Não por mim, mas por você, que perdeu um bom tempo a ler até aqui. Deixe-me ao menos fazer valer a paciência que dedicou e os minutos perdidos sem que houvesse, ainda, um consolo que valesse a pena nesta página e meia..

Espere só mais uns parcos segundos. Em consideração a você, que aqui navegou ao sabor da esperança, vou reverter o desenrolar da trama e tornar mais aguçadas, mesmo que por poucos segundos, as linhas que me sobram. 

Creio ser ausente do paraíso, e quiçá do sexo, esta pressão estressante, como a que sinto em seu olhar que teima em fugir daqui para outro lugar mais aprazível de se ler. Confesso que me fogem idéias e promiscuidades que tornassem este texto um desaguar de luxúrias e movimentos causticantes, como os que se passam nas casas de permissão. 

Rendo-me, venceu-me! Falhei na tentativa - desgasta-me a pressão. Não sei o que buscava você, se busquei um não sei quê e acabei não encontrando - aqui perdi-me num beco sem saída. 

Você! que tem visão mais privilegiada do ambiente, tal qual observador sobre a ponte que fita o rio a correr. Você! indique-me uma saída, pois já não sei onde procurar a tranca que me livre deste texto. 

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